"As imagens chocam, mas com todo respeito aos mortos e aos seus familiares, tenho mesmo essa intenção, pois só assim toca o tamanho da irresponsabilidade, da covardia e da impunidade que assombra o nosso país". (Rodriguim)
Dá uma dor esquisita no peito da gente saber que uma troca de e-mails entre profissionais da Vale e duas empresas ligadas à segurança da barragem de Brumadinho mostra que, dois dias antes do rompimento, a Vale já havia identificado problemas nos dados de sensores responsáveis por monitorar a estrutura.
Dois dias inteiros, nos quais não se tomou a única decisão correta e ética. Dois dias, nos quais se poderia evitar a morte de mais de 300 pessoas.
Trezentas e trinta e duas vidas humanas tratadas como se nada fossem, sem contar os bichos, as plantas e as águas de Minas Gerais.
Ao questionar Namba, o delegado Luiz Augusto Nogueira, da Polícia Federal, mencionou as mensagens atestando dados discrepantes obtidos pela leitura dos instrumentos automatizados (piezômetros) no dia 10/01/2019 e o não funcionamento de cinco piezômetros automatizados.
Uma pena para aquelas 300 pessoas, cujas vidas se foram, que o filho do engenheiro não trabalhava no local.
Namba afirma que só ficou sabendo das alterações dos dados fornecidos pelos sensores após o rompimento da barragem. Se for verdade, resta saber quem de sua empresa não o informou. Resta saber, ainda, quem, na Vale, apostou que a tragédia não viria.
O engenheiro também relatou que, numa reunião sobre o laudo de estabilidade assinado por ele, o funcionário da Vale Alexandre Campanha perguntou: “A TÜV SÜD vai assinar ou não a declaração de estabilidade?”. Namba disse à PF ter respondido que a empresa assinaria o laudo se a Vale adotasse as recomendações indicadas na revisão periódica de junho de 2018. Mesmo assim, assinou o documento. Foi além: disse que sentiu a frase de Campanha como pressão para assinar a declaração de condição de estabilidade sob o risco de perder o contrato.
Entre gente que teve mais medo de perder o contrato ou o emprego do que cumprir seu dever profissional e de consciência, restam os mortos de Brumadinho e essa lama vermelha que seca aos poucos também no coração de todos nós.”
Texo: Sonia Zaghetto
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