quarta-feira, 5 de janeiro de 2011

Dr House Brasileiro.

Concordo com ao autor do texto.
Parece que o Dr Drauzio vive em outro mundo, que não o da maioria de nós médicos, atendendo um número exagerado de pacientes por dia, por diversos motivos que não cabe citá-los aqui. Junte-se a isto a enorme falta de recursos para complementação diagnóstica, remunerações ridículas, falta de sono, refeição, diversão, descanso e convívio com os familiares, etc e muito tal mesmo.

Dr Dráuzio, me desculpe o pavor que tenho por sua pessoa e seu teatro no fantástico, mas a vida fora das telas é bem diferente. Parece que só você não sabe disso.

Dr House Brasileiro. (por Dr. João Paulo Aguiar Sampaio)

É hilárico, cômico, mas é trágico...Estando eu sentado na minha poltrona no domingo do dia 29/08/2010, assistindo à estréia do novo programa “É bom pra quê?” do nosso colega Dr. Dráuzio Varela no Fantástico, (melhor seria se eu estivesse lendo a resenha das novelas no jornal), da metade para o fi nal do programa fi quei extasiado, obnubilado, praticamente comatoso (Glasgow 3!!!). O nosso colega, Dr. Dráuzio Varela, resolveu analisar um caso clínico de uma repórter do fantástico.

Acontece que a jovem repórter há algumas semanas sentia dores no punho, principalmente relacionadas aos movimentos e sem histórico de trauma, provavelmente uma lesão por esforço repetitivo, patologia certamente devida à sua árdua função de digitação na redação da Rede Globo. O Dr. Dráuzio Varela analisou a radiografi a de punho da repórter, que à primeira vista parecia normal, mas com o “zoom” da câmera, pude observar pequenas calcifi cações na incidência de perfi l, calcifi cações estas ao nível do punho.

O nosso colega concluiu que tratava-se de um processo inflamatório na membrana sinovial, uma sinovite, e que as calcificações denunciavam o diagnóstico. A nossa repórter, sem ter outra matéria para editar e fugindo totalmente do escopo do programa, compareceu ao SUS. Cabe aqui um adendo: Será que o pagamento do plano de saúde de nossa repórter estava atrasado? O fato é que a mesma foi a três médicos em emergências e postos de saúde distintos e nos dois primeiros médicos recebeu um diagnóstico provisório de tendinite. Digo provisório, porque nas atuais condições do nosso “Universal Health System”, sem dispor de exames complementares e com uma infinidade de pacientes para atender, sem a mínima infra-estrutura, o máximo que se pode chegar num caso desses é a um diagnóstico provisório com posterior encaminhamento para um especialista.

Acontece que os nobres colegas que a atenderam estavam sendo filmados sem terem conhecimento disso e foram ultrajados no programa, pois a repórter comentou na reportagem que os mesmos haviam errado o diagnóstico, já que o Dr. Dráuzio Varela afirmou categoricamente que se tratava de uma sinovite e os nobres esculápios deram o diagnóstico de tendinite. Ora, que me ajudem os colegas Ortopedistas e Reumatologistas, mas até eu que não sou da especialidade fico embasbacado.

Em primeiro lugar, um diagnóstico de inflamação na sinóvia dado como certeza apenas pela análise da radiografia? E estas calcificações não podem ser nos tendões? E ainda, que erro cometeram os nossos colegas de pronto-atendimento em colocar como diagnóstico uma tendinite? Não são entidades de um mesmo espectro e que geralmente andam juntas e que fazem parte de um mesmo diagnóstico diferencial? E o Dr. Drauzio Varela solicitou uma ultrassonografia para confirmar o seu diagnóstico? O tratamento nesses dois casos seria diferenciado? Há algum desmérito nos nossos nobres colegas em afirmar que se tratava provavelmente de uma tendinite, quando na verdade deve até mesmo ser este o diagnóstico? Mas não pára por aí. A nossa repórter, que não se identificou, chegou a um terceiro médico e proferiu as seguintes palavras: “O terceiro médico também não me convidou para sentar, mas pelo menos acertou o diagnóstico: Cisto Sinovial!”.

Cara repórter, afinal de contas: o seu diagnóstico é uma sinovite, um cisto sinovial ou uma tendinite? Você pelo menos conhece o significado desses termos? Vale ressaltar que sempre nutri profunda admiração pelo colega Dr. Dráuzio, tendo inclusive lido três de seus livros. Este programa infelizmente trouxe minha decepção à tona. Será que o Dr. Dráuzio Varela não deveria refletir sobre a responsabilidade dele para com toda esta batalhadora classe médica que ainda resiste a tudo para providenciar alívio ao sofrimento dos seres humanos e da qual o mesmo faz parte? Divulgar informações deturpadas e deixar a cargo de uma repórter a análise de fatos médicos e que a mesma faça juízo de valores do diagnóstico de nobres colegas que se sujeitam ao estapafúrdio que é esse nosso sistema público de saúde, e tudo isso em cadeia nacional no domingo à noite?

Fica aqui encarecidamente o meu mais terno pedido de perdão se vos pareço rude, mas neste exato momento em que escrevo esse texto estou praticamente a convulsionar. Em um país em que os atuais governantes dizem haver uma grande economia e grandes programas sociais, a porcentagem de recursos destinados à saúde é mínima, menor que a de países pequenos como o Chile, e a população como um todo é cega para o fato de que não existe um sistema público de saúde decente no Brasil e no final das contas, algumas atitudes mal pensadas e mal revistas ainda fazem com que toda a sociedade ponha grande parte da culpa sobre os médicos, que são na verdade grandes vítimas de salários aviltantes e cargas horárias extenuantes. Fica aqui o meu apelo ao Dr. Dráuzio Varela para que reflita sobre esta atitude e se desculpe com seus colegas.

À repórter, eu como peritodo INSS, não posso deixar de orientar que a mesma solicite à Central Rede Globo uma Comunicação de Acidente de Trabalho (CAT), que vá à Previdência Social solicitar um benefício para se recuperar de sua tendinite e que se redima em público para com toda a categoria. A proibição de censura é totalmente saudável em um país democrático. O jornalismo irresponsável não!!!

Dr. João Paulo Aguiar Sampaio - Cirurgião Geral - Cremec 9054


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