Publicação: 12/01/2013
Os
rituais e as celebrações da cultura brasileira já deram 2012 por
findo. É ano passado. Página virada. Começa a redação de capítulo
novo da história do país. Ano de 2013. Os autores são os mesmos,
mas a expectativa é outra. Sonha-se o diferente. Deseja-se o melhor.
Espera-se menos adjetivo. Quer-se mais substantivo. Pouca retórica
e muita realização. Nada de marketing enganoso. Tudo de conteúdo
verdadeiro. É hora de investir mais na pessoa do que no negócio.
Desacelerar o consumismo escravizador. Substituir o engodo do pão
e do circo pela nutrição saudável do corpo e da alma do povo.
O
PIB já deu o que tinha que dar. Somente merece respeito com outro
significado: Produção Intelectual Brasileira. Da mesma forma, o
PAC. A aceleração a que se propõe deixa a desejar. Ademais, a sigla
é inapropriada à finalidade a que serve. Seu uso só terá coerência
ao expressar compromisso prioritário com o ser humano em formação,
muito mais relevante para a história do Brasil. É o que preceitua
o artigo 227 da Constituição Federal, relegado ao desprezo. PAC
de verdade retrata Prioridade Absoluta da Criança. Descumprindo-a,
o Estado deixa de ser democrático e de direito.
Para
que o ano 2013 inove, supõe-se ousadia. Do contrário, dará continuidade
ao velho. Só haverá mudança na ap †††õ?arência. O cerne pernicioso
da sociedade restará intocável. Desigualdades sociais, precariedades
na educação e na saúde, violência e outras máculas que parecem indeléveis
seguirão como tais.
O
decálogo de um PAC revolucionário para a história pátria, entendido
corretamente, não é novidade. Prescinde de justificativa. Nada se
lhe equipara na relação custo/benefício. Os itens são óbvios:
1.
Expandir, em curtíssimo prazo, o número de creches e pré-escolas
de qualidade, estrategicamente localizadas, funcionando em tempo
integral, em todos os municípios do país.
2.
Criar a profissão de cuidador da primeira infância, de nível médio,
para atuar nas unidades de creches e pré-escolas, a ser formado
em curso regular, disponibilizado por entidades públicas ou privadas,
em parceria com instituições universitárias.
3.
Implantar programa de promoção do crescimento e desenvolvimento
da criança, desde a concepção, com qualidade inegociável, desenvolvido
por profissionais dotados de formação diferenciada nesse complexo
domínio de conhecimento. As equipes envolvidas atuarão junto às
mães, em visitas domiciliares, e nas creches e pré-escolas.
4.
Recuperar o projeto do Centro Integrado de Educação Popular (Ciep),
aprimorando-o com técnicas educacionais da atualidade, reproduzindo-o
rapidamente em todas as unidades da Federação, visando à qualidade
do ensino fundamental em tempo integral, a ser assegurado a todas
as crianças, sem qualquer distinção.
5.
Criar a carreira federal do magistério, com pré-requisito de qualidade,
cujos profissionais sejam remunerados com salário à altura da dignidade
da nobre missão exercida.
6.
Garantir à criança e ao adolescente o acesso à assistência à saúde
prestada por pediatra habilitado pela qualificação profissional
requerida, incluindo †††õ?o atendimento de puericultura destinado
ao acompanhamento regular do ser humano no decisivo ciclo de vida
marcado pela complexidade dos fenômenos de crescimento físico e
desenvolvimento neuropsicomotor e social.
7.
Aplicar, em ações educativas e preventivas de saúde, entre elas
a puericultura, o dobro do que o SUS investe em ações curativas.
8.
Transformar a medicina em carreira de Estado, para prover as necessidades
médicas do SUS, respeitadas as particularidades das múltiplas demandas
e valorizado o mérito profissional a ser reconhecido por remuneração
condizente com o desempenho adequado a um sistema de saúde com a
abrangência e a dimensão que possui.
9.
Impedir a venda e o porte de armas de fogo no país; recolher as
já vendidas; e proibir a apresentação de filmes, novelas e programas
de rádio e televisão que contenham cenas protagonizadas com o uso
de tais equipamentos.
10.
Erradicar, de uma vez por todas, a veiculação de qualquer propaganda
comercial envolvendo a criança.
As
medidas que integram o decálogo são de clareza meridiana. Têm alcance
transformador contundente. Custam menos que os investimentos na
Copa do Mundo. O retorno, tanto econômico quanto humano, é infinitamente
mais alto. Se não realizadas, a mediocridade nacional perdura.
O
teor revolucionário do próximo capítulo da nossa história está nas
mãos do governo Dilma. Que 2013 seja, de fato, um ano novo. São
os votos dos cidadãos, também eleitores.
Assessoria de Comunicação da SBP
Texto: DIOCLÉCIO
CAMPOS JÚNIOR
Médico, professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira
de Pediatria