segunda-feira, 19 de outubro de 2020

Desabafo e reflexão do Dr Francisco Cardoso

 Neste 18 de Outubro de 2020, preciso fazer um desabafo:

Médico nunca foi respeitado em seu local de trabalho. Nem mesmo nos melhores hospitais existe um respeito de fato. Existem os amigos dos gestores e o resto.

Médicos são tratados feito lixo pelos gestores (tanto faz se é público ou privado).

Médico sempre foi tratado pela sociedade brasileira como uma “garota de programa” de quinta categoria. Daquelas bem rampeiras que apanham do cafetão (gestor) e depois voltam para passar a camisa dele.

Médicos não são alvo de preocupação quanto à sua segurança. A regra geral é mandar o médico se f***.

Quando argumentos óbvios de regras básicas de segurança pra os médicos são colocados à mesa, a resposta é: “mas vocês tem que se sacrificar.” Onde que está escrito que médico tem que se dar mal por negligência de empregador?

“Mau exemplo”, “Vagabundos”, “Desumanos”.  “Mercenarios”. Esses são os adjetivos que a sociedade reserva para o médico que ousa, OUSA, reivindicar para si os mesmos direitos que qualquer outro trabalhador tem, exige e é tratado com normalidade pela mesma sociedade.

O médico que atende de graça e se arrebenta, aceita atender de graça, dá receita pra todo mundo sem questionar, não reclama das insalubres e inidôneas condições de trabalho, não se queixa de atraso de salário, esse sim, ganha aplausos da mídia e da sociedade. “Bom exemplo “, “Médico de verdade”, “Herói”, etc.

Herói, na medicina, é médico que aceita ser escravo e aceita morrer em serviço. Médico que se ferra, esse é o herói. Médico que quer ser tratado como um ser humano, isso não, esse não é herói não.

O Brasil não está acostumado a ver uma categoria médica organizada e lutando por respeito e dignidade no trabalho. Quando isso ocorre, causa repulsa não apenas na Administração Pública, mas também no serviço privado e suplementar. Os convênios médicos e operadoras ficam de olho nisso também.

Uma intensa mobilização é feita para desacreditar e acabar com a reputação de médicos que ousam pedir melhores condições de atendimento e remuneração. Inclusive com uso de médicos vendidos ao sistema, que são acionados para criticar os colegas.

Vai que outros grupos de médicos também passem a reivindicar melhores condições de trabalho. Vai que a moda pega.

Não tenham dúvidas: médico que for pego criticando colega que está em movimento por melhores condições, ou é mercenário a serviço de gestor ou é um completo alienado. 

Pior é o colega que está trabalhando em péssimas condições e, ao invés de aplaudir os que se insurgem, resolve tacar pedra - pois se ele aceita trabalhar no lixo, porque o colega não aceita? - e se une aos mercenários da sociedade que querem nos manter como peça barata nessa engrenagem bilionária da saúde.

Recentemente os Peritos Médicos Federais fizeram um movimento: as agências do INSS estavam inabitáveis. Não dava para voltar ao atendimento presencial daquela forma (INSS fechou as portas em março, 6 meses antes). Todos os Peritos trabalharam de forma remota no período (3.5 milhões de processos analisados). Fomos massacrados pela sociedade e por diversos médicos. Como ousam? Quanta frescura.... E os coitados dos segurados ? (A vasta maioria estava recebendo antecipação pelo inss), dentre outras asneiras. A maior prova de que estávamos certos foi dada pelo próprio INSS: menos de 30% das agências abertas até hoje.  Várias fechadas por surto de COVID. Governo editou MP para dar dinheiro para o INSS comprar EPI. Os críticos sumiram. O estrago na reputação, feito.

Agora, com a telemedicina, seremos transformados em operadores de telemarketing. Um salão cheio de médicos com microfone, em frente a uma tela, falando sobre coisas que não pode afirmar e prescrevendo sem exame físico, controlados por “chefes” administrativos que vão checar desde o número de horas trabalhadas até se estão prescrevendo ou pedindo exames fora dos “protocolos”.

Seremos reles operadores de midia, vigiados, monitorados, trabalhando em algo (teleconsulta) para o qual não há nenhum estudo científico que mostre ser eficaz, seguro ou equivalente a medicina tradicional. Sem controle do nosso ato medico. Peça barata.

Como disse um empresário recentemente “nós temos agora o controle da caneta do médico”. 

É disso mesmo que se trata tudo isso: controle. Nossa profissão lida com algo muito caro, especializado e essencial para qualquer Estado (governo ou corporações): a Saúde humana. 

Controlar nossa caneta é essencial. Para empunha-la, são décadas de estudos, os vestibulares mais difíceis. Muito além de qualquer outro curso.

Além de terem o controle da nossa caneta (protocolos, telemedicina, gestão, perda do respeito pelo médico) agora querem vulgarizar nosso conhecimento (massificação de faculdades, revalida light, retirada de prerrogativas da medicina pra outras profissões).

Tudo isto está em curso neste momento. Só há um jeito de reverter isso: resgatarmos o respeito da sociedade pela profissão médica.

Isso começa pelo respeito a nós mesmos, cada um de nós, em seu emprego. Não aceitar mais humilhações, calotes, insubordinações e invasões de outros profissionais, dar o melhor de nossa capacidade, agir com ética, zelo, atenção, perícia e prudência.

Mas só isso não basta: temos que abandonar esse personagem de “sacerdote” que nos imputaram (para justificar todas as explorações feitas) e nos reconhecer como trabalhadores. É essencial abandonar essa falsa vaidade de ser “superior” em um “pedestal de vestal” que só serve como desculpa para aceitarmos calados todas as agressões feitas a nós.

Nesse 18 de Outubro não quero palmas, quero respeito. Não somos heróis, não somos sacerdotes, somos médicos. Temos família, contas, vida e direitos. Chega de aceitarmos violações a esses direitos.

Minha sincera homenagem as centenas de médicos já mortos pela COVID-19 no Brasil é lutar, a cada dia, por um país melhor para todos, para a medicina e para a saúde brasileira.

sexta-feira, 9 de outubro de 2020

É Preciso Demitir Cliente !


VOCÊ DEVE DEMITIR um cliente quando ele esgotar sua energia e tirar a sua PAZ. Não importa o que você faça ou ofereça, ele nunca vai ficar satisfeito.

Não importa o quão bom você é, esse cliente sempre vai reclamar do seu trabalho, do seu preço, dos seus serviços.

Ele vai sugar toda a sua energia, o seu tempo e a sua paciência para satisfazer os próprios desejos dele. Ele vai RECLAMAR. Pior: vai dar desculpas pra não pagar seu preço. Vai desqualificar você fez,. Vai distorcendo a verdade, confundir o combinado até deixar você com raiva.

Então, DEMITA ELE antes de perder a sua paz. Livre-se dele, porque não tem nada que você possa fazer para agradá-lo.

SIM, ELE VAI FALAR MAL DE VOCÊ.

E na primeira esquina que encontrar vai trocar você por outro profissional que não irá fazer a metade do que você fazia.

Demita ele! Porque se você continuar com ele, você não vai ter tempo de oferecer o seu melhor para outros que ficarão satisfeitos com você.

Os clientes que realmente gostam de você, do seu produto ou serviço vão se manter fiéis.

Vão respeitá-lo. Admirá-lo. Falar bem de você e do seu trabalho. Vão te indicar, pagar o combinado e prosperar.

PENSE NISSO!

Você vai crescer muito mais profissionalmente.

Quando você se livrar de pessoas tóxicas, fúteis, falsas, arrogantes, mal educadas, ignorantes, egoístas, venenosas - sejam clientes, amigos, colegas de trabalho, conhecidos, familiares ou empregados.

VALORIZE-SE!

Dê oportunidade para quem realmente te valoriza como ser humano, como profissional, para quem gosta de você pelo que você é.

Pronto Falei!!

Prof. Itamar Vicente Ribeiro - Palestrante

www.professoritamar.com.br

segunda-feira, 14 de setembro de 2020

A REVOLUÇÃO SILENCIOSA DO TRANSPORTE DE CARGAS AGRÍCOLAS.

 Jornal “O Estado de S. Paulo”, Opinião, 14/09/2020.

 Marcos S. Jank - professor de agronegócio global do Insper.

Corrigindo um erro de nove décadas, ferrovias estão chegando com força ao Centro-Oeste.

 Inaugurada por dom Pedro II, em 1854, a primeira operação intermodal de cargas do Brasil foi a "Imperial Companhia de Navegação a Vapor e Estrada de Ferro de Petrópolis", um ousado empreendimento do incrível barão de Mauá, o maior empresário do Império.

De 1854 a 1930 o Brasil construiu 30 mil km de estradas de ferro cobrindo a região litorânea do País, com destaque para as malhas das regiões do sul e do sudeste. Nesse período acompanhamos pari passu o exemplo de grandes nações que investiam em ferrovias e hidrovias de longa distância, como Rússia, Índia, Canadá, Austrália e Estados Unidos.

Lamentavelmente, tomamos a direção errada a partir da Presidência de Washington Luís, quando o lema passou a ser “governar é abrir estradas”. Desde então, sucessivos governos passaram a privilegiar longas rodovias e caminhões, em detrimento de soluções multimodais.

Felizmente, esse enorme erro estratégico começa a ser corrigido. Na década de 1970 o Brasil foi o berço da principal revolução tropical agrícola do planeta, que combinou tecnologias inovadoras com empreendedorismo de agricultores arrojados que migraram para os cerrados do Centro-Oeste. Mas a logística de transporte ferroviário não seguiu as novas fronteiras da agricultura e continuou sendo majoritariamente litorânea e estruturalmente precária nas ligações rodoviárias de longa distância do País.

Nos últimos anos, particularmente no governo atual com a excepcional gestão de Tarcísio de Freitas à frente do Ministério da Infraestrutura, as novas opções multimodais estão produzindo uma “revolução silenciosa” no transporte de cargas agrícolas do Brasil.

O principal beneficiário da mudança de modais é Mato Grosso, Estado que lidera a produção agropecuária nacional – com destaque para soja, milho, algodão e pecuária de corte – e se caracteriza como a área que forma o preço marginal da soja no mundo. Situado a mais de 2 mil km dos principais portos, Mato Grosso foi altamente prejudicado pela precariedade das estradas e pelo alto custo do frete rodoviário, que representa entre 15% e 45% do valor da soja no mercado internacional.

Agora as ferrovias estão chegando com força ao Centro-Oeste. A Rumo já carrega em seus trens o equivalente a 1.700 caminhões por dia na Malha Norte (volume de Mato Grosso), que levam menos de 85 horas para descer até Santos, o principal porto agrícola do País. Até o ano que vem a companhia vai operar trens de 120 vagões. Cada trem desses retira 240 caminhões bitrem das estradas.

Após mais de 30 anos de espera, a Ferrovia Norte-Sul, agora operada pela Rumo e pela VLI, estará operacional no segundo semestre de 2021, interligando os portos de Itaqui (MA) e de Santos (SP).

Em paralelo, a conclusão da rodovia BR-163 permitiu a concretização da saída bimodal pelo Arco do Norte, com os grãos do Centro-Oeste sendo enviados por caminhão até o porto fluvial de Miritituba, no Pará, e em seguida por barcaças até os portos próximos a Belém. Essa saída segue o pioneirismo da hidrovia do Rio Madeira, que há mais de 20 anos liga Porto Velho (RO) ao Oceano Atlântico. As novas opções multimodais já permitiram uma redução de 15% nos fretes de cargas agrícolas de Mato Grosso.

O próximo passo da “revolução silenciosa” é a chegada das ferrovias ao coração da produção de soja, milho e algodão de Mato Grosso. Três projetos estão sendo propostos nesse momento: 1) a extensão de 650 km da Ferronorte entre Rondonópolis e Lucas do Rio Verde, que será construída pela Rumo para movimentar cargas até o porto de Santos; 2) a Ferrovia de Integração do Centro-Oeste (Fico), que vai na direção oeste-leste, podendo futuramente chegar ao porto de Ilhéus; e 3) a Ferrogrão, que pretende alcançar os portos do Arco do Norte, complementando a saída pela BR-163.

Três ferrovias levando grãos do Centro Oeste para o norte, o leste e o sudeste do País constituem um novo paradigma inimaginável de desenvolvimento para a agricultura brasileira. É hora de concretizá-lo, sem pestanejar, pois só depende de leilões ou aprovações do governo.

Vale lembrar que entre granel e contêineres essas ferrovias transportam grãos, açúcar, fertilizantes, etanol, algodão, celulose, café, carnes e muitas outras commodities. Ademais, a opção pelos modais ferroviário e hidroviário traz muitos outros benefícios para o País, se comparados à alternativa rodoviária de longa distância: redução de emissões de gases de efeito estufa e de poluição atmosférica, maior eficiência energética, menor consumo de diesel por quilômetro percorrido, maior segurança e redução de desgastes e acidentes nas estradas, gerando economias importantes para a saúde pública e o meio ambiente.

Temos de aproveitar essa chance de realizar grandes investimentos privados em sistemas multimodais que demandam apenas concessões e autorizações do poder público. Em tempos de tantas notícias ruins por causa da pandemia global, poder corrigir nove décadas de dependência exclusiva e arriscada do transporte rodoviário em apenas uma década é uma oportunidade fantástica. Ela vai beneficiar não apenas o produtor rural brasileiro, mas, principalmente, o consumidor global.

sexta-feira, 31 de julho de 2020

As Cloroquinas e o Pensamento Médico.

Texto muito interessante. 


Esse texto é em parte uma resenha do pensamento de Régis Rodrigues Vieira e Carla Rosane Ouriques Couto, publicado no site do movimento “slow.medicine”, em 23/07/2020, e em outra parte uma discordância da tese central do mesmo pensamento.

Por que os médicos estão divididos sobre a utilização ou não da Hidroxicloroquina e da ivermectina no tratamento da Covid 19?

Existem médicos defendendo o uso dessas medicações baseados em suas experiências, no histórico da droga, na fisiopatologia das infecções e em possíveis casos exitosos. Analisam usando o método clínico dedutivo.

O desenvolvimento do raciocínio clínico e consequentemente o tratamento das doenças está fortemente enraizado no pensamento anátomo-fisiopatológico desses médicos que defendem a cloroquina.

Por outro lado, existem médicos desaconselhando o uso das mesmas medicações baseados nos ensaios clínicos realizados, e na falta de evidências estatísticas sobre a eficácia, efetividade e segurança delas no tratamento à covid-19.

Apesar da evolução do pensamento probabilístico, da chamada Medicina Baseada em Evidências (MBE) e do fato de que todas as Escolas Médicas, de alguma forma, incluírem a Epidemiologia Clínica nas suas grades curriculares, o fato é que a assimilação pelos médicos do método estatístico ainda é pequena.

Portanto, essa dicotomia não é somente uma questão ideológica. O que se observa é o embate entre o pensamento fisiopatológico versus o pensamento probabilístico.

O Dr. João Claudio Flores Cardosos foi quem introduziu a epidemiologia clínica no ensino da medicina em Sergipe. Ele se divertia com o espanto dos alunos, todos catequizados pelo pensamento anátomo-fisiopatológico, adotado na Escola. O Dr. Nestor Piva foi o sumo sacerdote dessa ciência médica em Sergipe.

Diz o texto publicado pela “slow.medicine”:

“Não temos na atual crise sanitária, um manual de comportamento ou pensamento médico único. Diante de nós há toda a ciência produzida, de Hipócrates passando por William Osler e Foucault, aos grandes epidemiologistas atuais, num cenário social, estrutural e político complexo, que muitas vezes pouco contribui para a serenidade na tomada de decisões.”

Os arautos do movimento “slow medicine” defendem integração dos métodos anátomo fisiopatológico e probabilístico na prática médica, não percebendo a incompatibilidade entre os dois caminhos.

Acreditam que basta o médico agir com empatia, compaixão, olhar humano, sob a luz da justiça social e da racionalidade científica, na condução do seu pensamento e na tomada de decisões, que o milagre da unificação dos métodos acontecerá.

O método anátomo fisiopatológico conduz a individualização dos doentes, cada caso é um caso, em sua forma de adoecer e morrer, o objeto do cuidado médico é o doente, que requer cuidados específicos, próprio da medicina artesanal. Nesse método, a Clínica é soberana!

O método probabilístico conduz aos protocolos, a padronização dos procedimentos, a uma terapêutica uniformizada e impessoal. O objeto da medicina é a doença. Esse método estatístico esvazia a subjetividade do cuidado médico, permitindo o seu consumo no mercado, em sua forma de mercadoria.

Claro, os médicos podem usar dos dois métodos, ora um, ora outro, em pessoas diferentes. Mas não podem fundir os dois métodos num mesmo paciente. Ou se usa o raciocínio clínico dedutivo, individualizado, ou se usa os protocolos, centrados em evidências estatísticas, com as suas condutas padronizadas.

Existe uma contradição entre a medicina assumir a responsabilidade de cuidar de uma pessoa doente e que esteja sofrendo, para a assistência sanitária voltada para curar de modo eficiente o maior número de pessoas, reduzindo os custos e os tempos.

As discussões não são bizantinas, elas expressam uma dualidade do pensamento médico atual.

A medicina de mercado é incompatível com as subjetividades, ela precisa dos protocolos, da objetividade, da produtividade medida e da previsibilidade segura dos lucros.

A medicina artesanal produz cuidados, a medicina de mercado produz procedimentos. São consumos distintos.

Quando os médicos ignoram as evidências do método probabilístico, cientificamente dominante, e prescrevem as cloroquinas, optando por seguir a sua casuística, a sua sensibilidade (a arte médica), mesmo que inconscientemente e de forma passageira, eles estão resistindo.

Quantos abdomens os cientistas já palparam? Perguntou enfático um velho clínico, devoto da cloroquina...

Essa discussão metodológica não é excludente, não afasta outras motivações de natureza político ideológica que permeiam a conjuntura.

Antonio Samarone (médico sanitarista)

Fonte: http://93noticias.com.br/noticia/50859/as-cloroquinas-e-o-pensamento-medico-por-antonio-samarone

segunda-feira, 29 de junho de 2020

A Revolta de Atlas.

Não deixei que determinassem o objetivo ao qual eu dedicara meus anos de formação, nem as condições sob as quais eu trabalharia, nem a escolha de pacientes, nem o valor de minha remuneração. 

Observei que, em todas as discussões que precediam a escravização da medicina, tudo se discutia, menos os desejos dos médicos. As pessoas só se preocupavam com o “bem-estar” dos pacientes, sem pensar naqueles que o proporcionavam. A ideia de que os médicos teriam direitos, desejos e opiniões em relação à questão era considerada egoísta e irrelevante. Não cabe a eles opinar, diziam, e sim apenas “servir”. 

Que um homem disposto a trabalhar sob compulsão é um irracional perigoso demais para trabalhar até mesmo num matadouro é coisa que jamais ocorreu àqueles que se propunham a ajudar os doentes tornando a vida impossível para os sãos. Muitas vezes me espanto diante da presunção com que as pessoas afirmam seu direito de me escravizar, controlar meu trabalho, dobrar minha vontade, violar minha consciência e sufocar minha mente – porque o que elas vão esperar de mim quando eu as estiver operando? 

O código moral delas lhes ensinou que vale a pena confiar na virtude de suas vítimas. Pois é essa virtude que eu agora lhes nego. 

Que elas descubram o tipo de médico que o sistema delas vai produzir. Que descubram, nas salas de operação e nas enfermarias, que não é seguro confiar suas vidas às mãos de um homem cuja vida elas sufocaram. Não é seguro se ele é o tipo de homem que se ressente disso – e é menos seguro ainda se ele é o tipo de homem que não se ressente.

(Ayn Rand,  A revolta de atlas)
Publicado em 1957, e mesmo assim continua sendo extremamente atual!

quinta-feira, 18 de junho de 2020

Atividades Físicas Para Crianças e Adolescentes.

Como possibilitar que crianças e adolescentes pratiquem atividades físicas com segurança pós-quarentena da COVID-19?

Fonte: Sociedade Brasileira de Pediatria

Crianças praticando esportes no parque | Vetor Premium

Os benefícios das atividades físicas em todos os ciclos da vida estão bem documentados na literatura, com grande potencial para prevenção/tratamento de doenças crônicas não transmissíveis e diminuição da morbimortalidade . No momento atual, tem-se dado atenção especial à relação da prática de atividades físicas e sistema imunológico. Em geral, evidências robustas demonstram efeitos positivos da atividade física sobre o sistema imunológico com importante ação anti-inflamatória . Contudo, é preciso estar atento ao tempo de duração e, especialmente, à intensidade da atividade, pois são moduladores dessa relação.
Tanto atividades com duração muito longa quanto aquelas com intensidade muito elevada podem ter um efeito agudo negativo sobre o sistema de defesa do organismo4 . A relação da intensidade das atividades físicas com o sistema imunológico tem sido representada por uma curva “J”. Na prática, isso significa que atividades físicas de intensidade moderada aumentam as defesas do organismo, ao passo que exercícios muito intensos podem causar imunossupressão. Estudo demonstrou que as infecções do trato respiratório superior podem diminuir em até 50% para indivíduos que realizam atividades físicas regulares de intensidade moderada e aumentar em até seis vezes para aqueles que realizam atividades muito intensas, ambos quando comparados com indivíduos sedentários .
No mesmo sentido, o corpo de evidências de estudos epidemiológicos também sugere que a atividade física regular e de intensidade moderada com duração entre 30 e 60 minutos por sessão está associada à diminuição da mortalidade e das taxas de incidência de influenza e pneumonia4 , reforçando a importância da adoção/manutenção de modos de vida mais ativos neste momento de pandemia de COVID-19.
Nos últimos meses o mundo tem observado duas pandemias, a da COVID-19 e a da diminuição considerável da prática de atividades físicas e aumento dos comportamentos sedentários entre pessoas de todas as etnias, condições socioeconômicas e faixas etárias . A pandemia da COVID-19 criou uma situação de isolamento social extremo gerando assim o chamado estresse tóxico7 , em que famílias foram obrigadas a adotar novos modelos de convivência, tais como: trabalhar em casa, estudar diariamente com os filhos, utilizar mídias digitais/plataformas de ensino, assumir os trabalhos domésticos (alimentação, limpeza, compras de supermercados e higiene dos produtos recebidos, entre outras tarefas).
O espaço doméstico, muitas vezes bastante limitado, teve que ser adaptado para atividades físicas mínimas e, consequentemente, se tornando um fator obesogênico. Ainda que as tarefas domésticas (ex.: varrer, passar, limpar a casa/faxinar, subir e descer escadas, etc) representem um dos quatro domínios da atividade física, o gasto energético e o estímulo fisiológico envolvido é geralmente reduzido, especialmente entre a população pediátrica
Idealmente, as crianças e adolescentes deveriam acumular 60 minutos de atividade física de intensidade moderada a vigorosa por dia, incluindo modalidades que estimulem ossos, músculos, mobilidade articular e exercícios envolvidos no desenvolvimento motor e de habilidades como equilíbrio e coordenação. Nesse período de isolamento domiciliar, atender às recomendações de prática de atividades físicas tem sido um desafio também para os jovens. Neste sentido, visando aumentar o nível de atividade física, crianças e adolescentes podem praticar atividades físicas em casa de forma lúdica brincando de bambolê, cabra cega, amarelinha, pular corda, caminhar sobre corda no chão e cabo de guerra8 . As ideias de atividades incluem jogos tradicionais de recreio em ambientes fechados (esconder e procurar, marcar, pular) e criatividade (construir uma pista de obstáculos, jogar vôlei de balão ou aprender a fazer malabarismos).
Além da diminuição da prática de atividades físicas, o confinamento social também demonstrou aumento expressivo da utilização das telas e dispositivos digitais, uma das ferramentas encontradas pelos pais para “entreter” crianças e adolescentes, modificando consideravelmente o comportamento individual e familiar. As tecnologias digitais, embora muito úteis para a sociedade contemporânea, precisam ser orientadas pelos pais e responsáveis para promover uma utilização harmoniosa dos jovens. Diversos documentos e recomendações publicadas pela Sociedade Brasileira de Pediatria (SBP) tratam do uso das tecnologias digitais de maneira positiva, inclusive podendo contribuir consideravelmente para o aumento da prática de atividades físicas durante o isolamento domiciliar.
O distanciamento social tem sido considerado a principal medida de enfrentamento à transmissão desordenada da CODIV-19. Pesquisa recente realizada com dados de onze países europeus demonstrou que mais de 3 milhões de vidas foram salvas devido a medidas de distanciamento social11. Atualmente no Brasil, a flexibilização dessas medidas está presente na agenda política e da sociedade em geral, devendo ocorrer em futuro próximo. Assim, torna-se necessário discutir cuidadosamente a maneira ideal e segura da prática de atividades físicas no “novo normal”.
Considerando recomendações recentes disponíveis na literatura9,12-17, o Grupo de Trabalho em Atividade Física da SBP disponibiliza algumas orientações importantes para escolas, professores de educação física, pais e cuidadores em geral:
a)       Escolas
• Elaborar um plano de volta às aulas presenciais que inclua precauções e cuidados específicos para a prática de atividades físicas.
• Organizar o espaço escolar para evitar grandes grupos/contato físico próximo e possibilitar o distanciamento físico entre os alunos nas atividades físicas e no recreio.
• Reforçar a importância e necessidade da utilização de máscaras durante todo o período de prática de atividades físicas.
• Orientar a lavagem frequente e correta das mãos, bem como, disponibilizar álcool em gel para uso entre os alunos antes e após a prática de atividades físicas,
• Proporcionar desinfecção frequente das superfícies de todos os materiais esportivos (bolas, halteres, raquetes, tacos, brinquedos, cordas, bambolês, etc) e ambientes escolares (ex.: playground, salas de ginástica, musculação e dança, etc) destinados às práticas de atividades físicas.
• Disponibilizar água potável em diferentes espaços escolares para estimular e garantir hidratação adequada dos alunos antes, durante e após a prática de atividades físicas.
• Estar especialmente atenta às famílias menos assistidas e em situação de vulnerabilidade social visando orientar/auxiliar pais e cuidadores a manter seus filhos ativos e seguros.
• Propor cursos de formação continuada para professores e demais funcionários da escola sobre autocuidado e cuidado com o outro nos períodos de pandemia e pós-pandemia, incluindo as atividades físicas neste processo.
         b) Professores de Educação Física:
• Planejar as aulas de educação física escolar visando evitar/desencorajar a prática de esportes coletivos e atividades de contato corporal e/ou que impossibilitem o distanciamento entre os participantes. Embora não haja consenso, tem-se sugerido entre 1 e 2 metros para atividades físicas estáticas e, devido a efeitos aerodinâmicos, distâncias maiores para atividades físicas com deslocamento podem ser necessárias (ex.: 5 e 10 metros para caminhas e corridas, respectivamente)14-17,18.
• Desenvolver as práticas corporais ao ar livre ou em espaços mais arejados possíveis, tendo em vista o aumento considerável do risco de transmissão da COVID-19 em ambientes fechados16.
• Para grande parte das pessoas, incluindo jovens, o isolamento domiciliar tem favorecido/favoreceu a diminuição do condicionamento físico. Este cenário precisa ser considerado no planejamento de aulas e práticas corporais em geral.
• Propor, preferencialmente, atividades físicas de intensidade moderada visando potencializar a melhora do sistema imunológico a médio e longo prazo, bem como, minimizar uma possível imunossupressão aguda decorrente de exercícios com intensidade muito elevada.
• Estimular a hidratação antes, durante e após a prática de atividades físicas. A desidratação pode contribuir para imunossupressão e, desta forma, aumentar o risco de infecção por viroses em geral, incluindo a COVID-19.
• Atividades esportivas individuais como atletismo, jogos de raquete, karatê, skate e capoeira podem ser uma boa estratégia neste período, pois com poucas adaptações pode ser garantido o distanciamento físico entre os participantes.
• Atividades de circuito também podem ser uma opção interessante para desenvolver diferentes componentes da aptidão física relacionada à saúde, em especial a aptidão aeróbia. Essas atividades, além de terem a vantagem de possibilitar adaptações para diferentes faixas etárias e serem muito atrativas tanto para crianças quanto para adolescentes, podem facilitar o distanciamento entre os alunos devido a sua estrutura organizacional baseada em estações.
• O Yoga, uma prática milenar que pode ser realizada por indivíduos de qualquer idade, representa uma ferramenta relevante para melhora da saúde física, com importante estímulo para ganho de flexibilidade e força muscular. Além disso, o Yoga pode ser especialmente importante para o momento atual por possibilitar o distanciamento físico durante a prática e contribuir para a estabilização da saúde emocional e mental, auxiliando no enfrentamento do estresse, ansiedade e sintomas depressivos.
• Esportes de aventura podem ser propostos como atividades extraescolares, sempre que possível. Essas ações podem ser realizadas em ambientes ao ar livre e também estimular o contato dos jovens com a natureza.
• Ajudar crianças e adolescentes a adaptar jogos e brincadeiras presentes na cultura da comunidade em que estão inseridos visando garantir o distanciamento social.
• Participar ativamente da construção de um plano de trabalho conjunto com toda a comunidade escolar de conscientização dos alunos para prática segura de atividades físicas neste período de pandemia. Propostas coletivas são fundamentais para aumentar a efetividade das ações!
b)      Pais e cuidadores:
. Enfatizar as medidas de isolamento e mínimo contato, principalmente em áreas comuns como parques, pracinhas e condomínios. É importante que pais e cuidadores aumentem a vigilância visual para garantir o distanciamento físico, especialmente entre crianças.

• Atentar para a segurança das crianças principalmente no trânsito (travessia de ruas, espaços muito amplos com pouca supervisão), pois o grande período de confinamento pode gerar excesso de energia positiva para atividades físicas ao ar livre.

• Reforçar todas as medidas de prevenção que deverão persistir mesmo após a volta à “normalidade”, tais como: lavagem constante de mãos com sabão, uso do álcool em gel, manter o distanciamento e mínimo contato físico com outras pessoas e evitar grandes aglomerações.

• Promover a limpeza constante de brinquedos de uso frequente, em especial aqueles utilizados fora do domicílio e que tenham sido compartilhados com outras crianças.

• Ter sempre álcool em gel disponível para todas as atividades, principalmente naquelas em que há contato frequente de mãos e pernas nos parques infantis (balanço, escorrega, carrossel, redes para escalar, etc).

• Estimular uso de máscaras faciais de pano adequadas nas atividades ao ar livre, levando em consideração a idade da criança/adolescente e o nível de compreensão da faixa etária envolvida19. Os adolescentes possuem capacidade cognitiva para utilizar as máscaras de barreira de maneira correta, assegurando maior proteção individual e de grupo. Deve ser lembrado que o uso de máscaras em atividades aeróbias como corridas, jogar futebol/basquete e andar de bicicleta requer um período de adaptação ao novo modo de respirar “dentro da máscara”.

• Dar preferência a atividades ao ar livre em espaços amplos como praças e parques, priorizando contato com a natureza20: árvores, galhos soltos, terra, água, grama. Pular, correr, rolar são exemplos de atividades a serem desenvolvidas nessas áreas. Em lugares nos quais a praça ou parque estejam em mau estado de conservação, sugere-se a busca por outras famílias e entidades privadas para promover a revitalização comunitária do local.

. Reservar tempo nos fins de semana para praticar alguma atividade física com seus filhos: andar de bicicleta, brincar de bola, fazer castelo de areia, estimulando modos de vida saudável.

• Os pais podem acessar as mídias digitais para procurar atividades físicas virtuais como jogos interativos, danças e aulas aeróbicas de acordo com a faixa etária dos filhos9 . Por outro lado, também é muito importante neste momento estabelecer limites para uso de tecnologia digital, especialmente quando estimule o comportamento sedentário, conforme as faixas etárias e seguindo o Manuais de Orientação da SBP sobre “Promoção da Atividade Física na Infância e Adolescência”8 e “Saúde de Crianças e Adolescentes na Era Digital”21.

• Dividir atividades domésticas com os filhos pode ser importante tanto para aumentar o nível de atividade física quanto para estreitar os laços e aumentar a cumplicidade familiar.

• Evitar que seus filhos pratiquem atividades físicas em caso de apresentarem sintomas gripais/respiratórios.

• Estimular o retorno gradativo às técnicas de esporte-terapia para crianças com necessidades especiais através do contato com educadores físicos e horas programadas para realização dos exercícios. A SBP está empenhada em mostrar que a prática de atividades físicas é de grande importância para a saúde física, mental e emocional de crianças e adolescentes, principalmente após esse período prolongado de isolamento domiciliar.

terça-feira, 26 de maio de 2020

Covid-19

Não sei se a origem do texto é esta mesma citada abaixo, mas concordo com tudo que está escrito.


Finalmente, algo prático e honesto do Chefe da Clínica de Doenças Infecciosas da Universidade de Maryland, EUA:

1. Talvez tenhamos que morar com o C19 por meses ou anos. Não vamos negar ou entrar em pânico. Não vamos tornar nossas vidas inúteis. Vamos aprender a conviver com esse fato.
2. Você não pode destruir os vírus C19 que penetraram nas paredes das células, bebendo galões de água quente - você só vai ao banheiro com mais frequência.
3. Lavar as mãos e manter um distância física de dois metros é o melhor método para sua proteção.
4. Se você não tem um paciente C19 em casa, não há necessidade de desinfetar as superfícies da sua casa.
5. Cargas embaladas, bombas de gás, carrinhos de compras e caixas eletrônicos não causam infecção. Lave as mãos, viva sua vida como sempre.
6. C19 não é uma infecção alimentar. Está associado a gotas de infecção como a gripe. Não há risco demonstrado de que o C19 seja transmitido solicitando alimentos.
7. Você pode perder o sentido do olfato com muitas alergias e infecções virais. Este é apenas um sintoma inespecífico de C19.
8. Uma vez em casa, você não precisa trocar de roupa com urgência e tomar banho! Pureza é uma virtude, paranóia, não é?
9. O vírus C19 não está no ar. Esta é uma infecção respiratória por gotículas que requer contato próximo.
10. O ar está limpo, você pode caminhar pelos jardins (apenas mantendo sua distância de proteção física), pelos parques.
11. É suficiente usar sabão normal contra C19, não sabão antibacteriano. Este é um vírus, não uma bactéria.
12. Você não precisa se preocupar com seus pedidos de comida. Mas você pode aquecer tudo no microondas, se desejar.
13. As chances de levar o C19 para casa com os sapatos são como ser atingido por um raio duas vezes por dia. Trabalho contra vírus há 20 anos - as infecções por gota não se espalham assim!
14. Você não pode ser protegido contra o vírus tomando vinagre, suco de cana e gengibre! Estes são para imunidade, não para cura.
15. Usar uma máscara por longos períodos interfere nos níveis de respiração e oxigênio. Use-o apenas na multidão.
16. Usar luvas também é uma má idéia; o vírus pode se acumular na luva e ser facilmente transmitido se você tocar em seu rosto. Melhor apenas lavar as mãos regularmente.
17. A imunidade é muito enfraquecida ao permanecer sempre em um ambiente estéril. Mesmo se você comer alimentos que aumentam a imunidade, saia regularmente de sua casa para qualquer parque / praia. A imunidade é aumentada pela exposição a patógenos, não por ficar em casa e consumir alimentos fritos / condimentados / açucarados e bebidas gaseificadas.

quinta-feira, 14 de maio de 2020

Quanta podridão.



Sobre o considerado “primeiro caso positivo” da Covid-19 em Diamantina, penso o seguinte:

- Graças a Deus tivemos um exame positivo. Ou alguém acredita que uma doença que está circulando no país desde fevereiro (ou talvez desde o ano passado), não havia chegado aqui ainda?
Tivemos um carnaval com inúmeras pessoas de fora. Estudantes, professores e funcionários universitários,  voltando de férias das mais diversas cidades. Moradores de inúmeras cidades diferentes perdendo o emprego e a condição de sobrevivência tendo que retornar para as casas dos familiares tanto aqui em Diamantina quanto nos distritos e cidades da região. Diamantina é uma cidade polo onde toda a população da região tem necessidade de aqui resolverem suas questões de saúde e até financeiras. Taxis indo e voltando com seus passageiros. A necessidade dos caminhoneiros nos manterem abastecidos dos mais diversos produtos essenciais, podendo eles também trazerem o vírus pra cá e etc e muito tal.

O que me deixa estarrecido é a infinita falta de ética do ser humano. Em poucos minutos após o pronunciamento oficial da prefeitura, já estava rolando nas diversas redes sociais o nome, idade, emprego e a foto do paciente que testou positivo.

Como o ser humano é podre e infeliz, pra não dizer outras coisas?
Daqui a pouco vão soltar a lista dos tuberculosos, HIV positivos entre outros. É só o que falta e não duvido.

Hipócritas de plantão detonando comerciantes que tentam sobreviver, mas continuam fazendo suas caminhadas diárias, suas voltinhas de bicicleta e torcendo até pelo fechamento dos salões de beleza enquanto recebem suas manicures e cabelereiras em casa. Esses profissionais estão indo a casa de vocês portando um exame negativo para lhes apresentar?

Ah! Mas o corona vírus mata.
Sim, mata assim como também diversas outras doenças matam, inúmeras delas preveníveis com uma simples dose de vacina e a maioria das pessoas com o cartão de vacina incompleto. Basta ver a meta de vacinação agora da vacina influenza (gripe) que atingiu pouco mais de 50% de adesão, em muitos lugares nem isso.

Difteria, tétano e sarampo matam e as vacinas vencem nos postos. Alguém aí posta o cartão de vacina, se tiver coragem...

E o Corona?

Vai ser cada vez mais diagnosticado com o incremento e a maior precisão dos exames feitos com melhor critério pela equipe da universidade. Teremos mais diagnósticos positivos e talvez mais consciência, tanto dos cuidados gerais que teremos que ter daqui pra sempre, quanto que a vida precisa continuar e que mortes vão ocorrer por todas as causas possíveis. E a evolução vai mostrar que o corona tanto mata quanto também não provoca sintoma nenhum em muitas pessoas e que sim, é possível chegarmos a um tratamento e vacina daqui a algum tempo.
Sobre o tratamento tenho minha convicção que não cabe expor aqui. Ela é baseada em muita leitura, muitas observações e até contatos com colegas de profissão que já enxergam um certo caminho a seguir. E é atrás deles que vou para me tratar se for necessário. E se morrer, sei também que a morte não tem cura e isso vale pra tudo na vida, até pra um tombo de cabeça durante o banho.

Criticar quem tenta sobreviver buscando a comida minguada de cada dia enquanto o salário cai mensalmente na conta da sua corona-férias, é muito cômodo.

E depois de tudo que escrevi no início sei é claro, que o lema é cada um por si e todos contra todos. Ou seja, cada um com seus problemas. E pelo jeito, sem um pingo de ética e respeito pelo outro.

Vai entender...

Ass. Rodrigo Cavalcanti Gonçalves

quarta-feira, 13 de maio de 2020

COVID-19 e a Volta às Aulas



COVID-19 e a Volta às Aulas
Departamento Científico de Imunizações – Sociedade Brasileira de Pediatria

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Introdução Em 2020 o mundo foi surpreendido por uma pandemia causada por um novo Coronavírus, denominado SARS-CoV-2, de alta contagiosidade e associado a significativas taxas de letalidade. No Brasil, pouco mais de dois meses após o primeiro caso confirmado no final de fevereiro, o país já registra mais de 170 mil casos confirmados e mais de doze mil mortes. 

Até o momento não se dispõe de tratamento antiviral efetivo, tampouco vacinas profiláticas, e medidas não farmacológicas têm sido recomendadas, em muitos países, com o intuito de diminuir a velocidade de transmissão e sobrecarga nos sistemas de saúde: higiene das mãos, uso de máscaras, quarentena.

A despeito das crianças estarem sendo mais poupadas das formas graves da doença (são raros os casos de hospitalização e óbitos em menores de 10 anos de idade), vários estudos têm demonstrado que elas também são infectadas e apesar de até o momento não termos acumulado evidências que demonstrem o real papel das crianças na transmissão da doença, devemos reconhecer que a suspensão das atividades escolares, implementadas em quase todos os países do mundo, acabaram limitando a possibilidade de que se conhecesse com clareza o papel das crianças na cadeia de transmissão da doença.

Sabemos que a doença é transmitida por meio de contato direto com gotículas respiratórias de uma pessoa infectada (fala, tosse e espirros) e ao se tocar na face (olhos, nariz e boca) após contato com superfícies contaminadas.

Entre as medidas de controle, o distanciamento social tem sido ferramenta crucial na redução da transmissão do vírus na comunidade, com evidências, em muitos países, da efetividade dessa medida; a suspensão das aulas é parte desta estratégia restritiva.

Portanto, é nosso entendimento que a volta às aulas deva ser gradual, de forma cautelosa, incluindo todas as precauções possíveis para minimizar a disseminação da infecção pelo SARS-CoV-2 nas escolas. O relaxamento das medidas de distanciamento deve ser avaliado em cada município ou estado, em função de dados epidemiológicos e recursos de saúde disponíveis para o atendimento dos casos novos, podendo haver a necessidade de eventual retorno à instalação de medidas restritivas quando a situação epidemiológica assim indicar. Este documento tem como principal objetivo destacar os pontos mais importantes a serem considerados por ocasião do retorno às atividades escolares, com sugestões para pais, educadores e escolas, públicas e privadas, para segurança de todos.

Volta às aulas
A volta à escola tem sido motivo de apreensão e dúvidas por parte de pais e/ou responsáveis. Se por um lado existe a preocupação em relação ao adoecimento dos filhos e, como consequência, de outros membros da família, por outro lado, há o prejuízo da aprendizagem e sociabilização. Crianças, mesmo assintomáticas, podem ser transmissoras da doença. Tossem, espirram, compartilham brinquedos e alimentos sem maiores cuidados. 

De um modo geral, as crianças não fazem parte do grupo mais afetado pela COVID-19, entretanto, recentemente o Ministério da Saúde do Brasil publicou um documento que atualizou os grupos de risco, incluindo as crianças abaixo de cinco anos de idade com síndrome gripal, especialmente as menores de dois anos, nas quais há maior taxa de hospitalização, especialmente pelo potencial risco da infecção pelo vírus influenza nestes casos.

Princípios Fundamentais
– Pais e professores devem procurar manter-se informados sobre a COVID-19 (modo de transmissão, sintomas da doença, medidas de prevenção) por meio de fontes confiáveis, evitando as fake news;
– Crianças e profissionais da educação, se doentes, não devem frequentar a escola;
 – A escola deve oferecer diversos locais para lavagem de mãos, água e sabão, álcool em gel e higienizar frequentemente os recintos e superfícies;
 – A escola deve propiciar ambientes arejados, com aberturas de janelas. Atividades ao ar livre devem ser estimuladas;
– Cabe à escola evitar aglomerações, na entrada, saída de alunos ou intervalos, criando horários alternativos para as turmas;
– Jogos, competições, festas, reuniões, comemorações e atividades que envolvam coletividade devem ser temporariamente suspensos;
– O ensino à distância, sempre que possível, deve ser estimulado;

Medidas de distanciamento social
As medidas de distanciamento social devem ser adotadas na escola, com o objetivo de diminuir o grande número de pessoas no mesmo espaço, reduzindo, assim, o contágio.
Em um primeiro momento o número de alunos por sala, sempre que possível, deve ser reduzido, e os alunos podem ser divididos em grupos que se alternem entre a atividade presencial e à distância, de acordo com as disciplinas curriculares. O estabelecimento de ensino deve se organizar para que cada turma tenha o intervalo entre as aulas em horário diferente de outras turmas, assim como estabelecer horários de entrada e saída escalonados, evitando aglomerações.

Sempre que possível, é recomendável manter um espaçamento entre os alunos dentro da sala de aula, de acordo com a realidade de cada escola, idealmente com espaço mínimo de um metro entre as mesas.

Em relação ao transporte escolar, é necessário avaliar o número de usuários, para que se preserve a distância recomendável entre as pessoas também no veículo.
Alunos que tenham contraindicações de frequentar a escola por serem imunocomprometidos, ou tenham doenças crônicas, devem receber educação à distância, bem como professores e funcionários da escola que sejam pertencentes aos grupos de risco devem ser deslocados para funções distantes do contato com alunos.

Medidas educativas
É importante que cada escola adote políticas de educação para prevenção de infecções que envolvam alunos, pais, professores e funcionários. Os pais devem ser orientados a não levarem seus filhos à escola ao menor indício de quadro infeccioso, seja febre, manifestações respiratórias, diarreia, entre outras. Deve-se mantê-los afastados enquanto se aguarda a conclusão do diagnóstico, com o cuidado de não se estigmatizar o indivíduo, o que posteriormente pode trazer consequências negativas, como bullying entre as crianças.

Caso a criança ou membros da família apresentarem teste positivo para o SARS-CoV-2, a escola deve ser comunicada, sendo o seu retorno condicionado à melhora dos sintomas e não antes de 14 dias, a contar do primeiro dia do surgimento dos sintomas.

A escola deve ter um espaço reservado, para a situação em que haja adoecimento de algum aluno, professor ou funcionário. Dependendo do contexto clínico, pode haver a necessidade de conduzir o estudante para atendimento médico.

Outras medidas de higiene devem ser postas em prática na escola com o objetivo de diminuir a infecção entre as pessoas:
– Higienização das mãos frequentemente, especialmente antes e após as refeições e a ida ao banheiro. Reforçar a técnica adequada, conforme orientada pelo Ministério da Saúde, com duração mínima de 40 segundos utilizando água e sabão ou de 20 segundos quando utilizado álcool gel;
– A escola deve manter lavatórios em bom funcionamento, sinalizados e abastecidos com sabão e papel toalha; – Álcool em gel deve ser disponibilizado para alunos que possam utilizar com segurança e responsabilidade. Manter higienizadores de mãos em sala de aula, corredores, banheiros e na entrada e saída da escola;
– Evitar o uso e reuso de lenços de pano;
– Orientar para o uso de lenços descartáveis ou do antebraço (cotovelo dobrado) ao tossir ou espirra;
– Evitar tocar olhos, boca e nariz;
– Orientar para que cada estudante traga e utilize sua própria garrafa de água, utilizando os bebedouros comuns apenas para encher essas garrafas novamente; proibir estudantes de beber diretamente do bebedouro;
– Uso de máscaras deve ser estimulado. Está contraindicado em crianças menores de dois anos, pelo risco de sufocação e em indivíduos que apresentem dificuldade em removê-las, caso necessário. As máscaras devem ser trocadas a cada duas a quatro horas, ou antes, se estiverem sujas, úmidas ou rasgadas.

As medidas educativas devem ser adaptadas para as diversas faixas de idade (pré-escola, ensino fundamental, médio e superior), em linguagem e comunicação adequadas para cada fase.
Estas medidas devem ser estendidas ao ambiente doméstico da criança e a escola deve promover atividades educativas com intuito de reforçá-las, assim como exibir material ilustrativo em quadros de aviso, sala de aula, corredores etc.

Limpeza e desinfecção da escola.
A escola deve proceder à limpeza de seus ambientes pelo menos uma vez ao dia e, mais frequentemente, das áreas de maior circulação de pessoas, assim como dos objetos mais tocados (maçanetas, interruptores, teclados, etc.).
Está recomendado o uso de solução de hipoclorito de sódio a 0,5% para limpar superfícies e de álcool a 70% para pequenos objetos.
Deve-se manter os ambientes arejados, de acordo com as condições climáticas, além de recolher o lixo com frequência e limpeza frequente dos bebedouros.

Considerações finais.
A pandemia causada pela COVID-19 tem sido um aprendizado para todos, sobre o qual, a cada dia, vivenciamos fatos novos, exigindo constante atualização dos conhecimentos para um adequado enfrentamento desta grave situação.

Tem sido causa de estresse e ansiedade em grande parte das pessoas, e as crianças podem estar reagindo de formas diferentes, com alterações comportamentais, do sono e da alimentação. É importante que a escola tenha um espaço para que a criança possa falar sobre seus sentimentos, medos e dúvidas. Nos casos em que se identifique um quadro mais exacerbado a criança deve ser encaminhada para um acompanhamento especializado.

Estamos todos enfrentando uma crise de proporções mundiais, amplificada pela inédita conectividade planetária. Temos nos esforçado no autocuidado, no cuidado a outras pessoas e na adaptação às novas condições de vida, exigida pelas circunstâncias.

Mesmo com a adoção de medidas de mitigação durante o retorno às aulas, impactos emocionais, físicos e cognitivos são esperados no curto e médio prazo, e ações devem ser adotadas numa necessária parceria entre saúde e educação.

A escola é um espaço de inclusão, formação e de exercício de cidadania, e neste momento, deve buscar cumprir seu papel, inclusive de promotora da saúde, com segurança e responsabilidade.

quarta-feira, 15 de abril de 2020

Quarentena: porque você deveria ...

Excelente texto. Fonte: https://medium.com/@rntpincelli/quarentena-porque-vc-deveria-ignorar-toda-a-pressao-para-ser-produtivo-agora-3f4f0b8378ae

Quarentena: porque você deveria ignorar toda a pressão para ser produtivo agora

Uma pesquisadora com experiência em ambientes adversos dá conselhos aos acadêmicos ansiosos com a quebra de rotina causada pelo coronavírus.

Por Aisha S. Ahmad, no Chronicle of Higher Education.
Tradução de Renato Pincelli.

O
QUE TENHO OBSERVADO entre meus colegas e amigos acadêmicos é uma resposta comum à contínua crise da COVID-19. Eles estão lutando bravamente para manter um senso de normalidade — correndo para os cursos online, mantendo rigorosos cronogramas de escrita e criando escolinhas Montessori nas mesas de cozinha. A expectativa deles é apertar os cintos por um breve período, até que as coisas voltem ao normal. Para qualquer um que segue esse caminho, desejo muita saúde e boa sorte.

Entretanto, como alguém que tem experiência com diversas crises ao redor do mundo, o que eu vejo por trás dessa busca pela produtividade é uma suposição perigosa. A resposta para a pergunta que todo mundo está se fazendo — “Quando isso vai acabar?” — é simples é óbvia, mas difícil de engolir. A resposta é nunca.
Catástrofes globais mudam o mundo e esta pandemia é muito semelhante a uma grande guerra. Mesmo que a crise do coronavírus seja contida dentro de alguns meses, o legado dessa pandemia vai viver conosco por anos, talvez décadas. Isso vai mudar o modo como nos movemos, como construímos, como aprendemos e nos conectamos. É simplesmente impossível voltar à vida como se nada disso tivesse acontecido. Assim, embora possa parecer bom por enquanto, é tolice mergulhar num frenesi de atividade ou ficar obcecado com sua produtividade acadêmica neste momento. Isso é negação e auto-ilusão. A resposta emocional e espiritualmente saudável seria se preparar para ser mudado para sempre.
O resto deste artigo é um conselho. Fui constantemente procurada por meus colegas ao redor do mundo para compartilhar minhas experiências de adaptação às condições de crise. Claro que sou apenas uma humana, lutando como todo mundo para se ajustar à pandemia. Entretanto, já trabalhei e vivi sob condições de guerra, conflitos violentos, pobreza e desastres em muitos lugares do mundo. Passei por racionamento de comida e surtos de doenças, bem como prolongados períodos de isolamento social, restrição de movimento e confinamento. Conduzi pesquisas premiadas sob condições físicas e psicológicas extremamente difíceis — e tenho orgulho de minha produtividade e desempenho na minha carreira de pesquisadora.
Deixo aqui os seguintes pensamentos durante esse momento difícil na esperança de que eles ajudem outros acadêmicos a se adaptar a essas condições duras. Pegue o que precisa e deixe o resto.

Primeiro Estágio: Segurança

SEUS PRIMEIROS dias ou suas primeiras semanas numa crise são cruciais e você deveria ter um amplo espaço para fazer um ajuste mental. É perfeitamente normal e aceitável sentir-se mal ou perdido durante essa transição inicial. Considere positivo que não esteja em negação e que está se permitindo trabalhar apesar da ansiedade. Nenhuma pessoa sã sente-se bem durante um desastre global, então agradeça pelo desconforto que sente. Neste estágio, eu diria para focar em alimentação, família, amigos e talvez exercícios físicos — mas você não vai virar um atleta olímpico em quinze dias, então baixe sua bola.
Em seguida, ignore todo mundo que está postando a pornografia da produtividade nas mídias sociais. Está bem se você continua acordado às 3 da manhã. Está bem esquecer de almoçar ou não conseguir fazer uma teleaula de ioga. Está bem se faz três semanas que você nem toca naquele artigo-que-só-falta-revisar-e-submeter.
Ignore tanto as pessoas que dizem estar escrevendo papers quanto as que reclamam de não conseguir escrever. Cada qual está em sua jornada. Corte esse ruído.
Saiba que você não está fracassando. Livre-se das ideias profundamente toscas que você tem a respeito do que deveria estar fazendo agora. Em vez disso, seu foco deve se voltar prioritariamente para sua segurança física e mental. Neste começo de crise, sua prioridade deveria ser a segurança da sua casa. Adquira itens essenciais para sua dispensa, limpe seu lar e faça um plano de coordenação com sua família. Tenha conversas razoáveis sobre preparos de emergência com seus entes queridos. Se você é próximo de alguém que trabalha nos serviços de emergência ou num ramo essencial, redirecione suas energias e faça do apoio a essa pessoa uma prioridade. Identifique e cubra as necessidades dessas pessoas.
Não importa como é o perfil da sua família: vocês vão ter que ser um time nas próximas semanas ou meses. Monte uma estratégia para manter conexões sociais com um pequeno grupo de familiares, amigos e/ou vizinhos, mas mantenha o distanciamento físico de acordo com as orientações de saúde pública. Identifique os vulneráveis e garanta que eles estejam incluídos e protegidos.
A melhor maneira de construir um time é ser um bom companheiro de equipe, então tome alguma iniciativa para não ficar sozinho. Se você não montar essa infra-estrutura psicológica, o desafio das medidas de distanciamento social necessárias pode ser esmagador. Crie uma rede sustentável de apoio social — agora.

Segundo Estágio: Modificação Mental

ASSIM QUE estiver seguro junto com seu time, você vai começar a se sentir mais estável e seu corpo e sua mente vão se adaptar, fazendo-o buscar desafios mais exigentes. Depois de um tempo seu cérebro pode e vai reiniciar sob condições de crise e você vai reaver sua capacidade de trabalhar em alto nível.
Essa modificação mental permitirá que você volte a ser um pesquisador de alta performance, mesmo sob condições extremas. No entanto, você não deve tentar forçar sua modificação mental, especialmente se você nunca passou por um desastre. Um dos posts mais relevantes que vi no Twitter (do escritor Troy Johnson) dizia: “Dia 1 da Quarentena — vou meditar e fazer treinamento físico. Dia 4 — ah, vamos misturar logo o sorvete com o macarrão”. Pode parecer engraçado, mas diz muito sobre o problema.
Mais do que nunca, precisamos abandonar o performativo e abraçar o autêntico. Modificar nossas essências mentais exige humildade e paciência. Mantenha o foco nessa mudança interna. Essas transformações humanas vão ser sinceras, cruas, feias, esperançosas, frustrantes, lindas e divinas — e serão mais lentas do que os acadêmicos atarefados estão acostumados. Seja lento. Permita-se ficar distraído. Deixe que isso mude o modo como você pensa e como você vê o mundo. Porque o nosso trabalho é o mundo. Que essa tragédia, enfim, nos faça derrubar todas as nossas suposições falhas e nos dê coragem para ter novas ideias.

Terceiro Estágio: Abrace o Novo Normal

Do outro lado dessa mudança, seu cérebro maravilhoso, criativo e resiliente estará te esperando. Quando suas fundações estiverem sólidas, faça uma agenda semanal priorizando a segurança do seu time doméstico e depois reserve blocos de tempo para as diferentes categorias do seu trabalho: ensino, administração e pesquisa. Faça primeiro as tarefas simples e vá abrindo caminho até os pesos-pesados. Acorde cedo. Aquela aula online de ioga ou crossfit vai ser mais fácil nesse estágio.
A essa altura, as coisas começam a parecer mais naturais. O trabalho também vai fazer mais sentido e você estará mais confortável para mudar ou desfazer o que estava fazendo. Vão surgir ideias novas, que nunca lhe passariam pela cabeça se você tivesse ficado em negação. Continue abraçando sua modificação mental, tenha fé no processo e dê apoio ao seu time.
Lembre-se que isso é uma maratona: se você disparar na largada, vai vomitar nos seus pés até o fim do mês. Esteja emocionalmente preparado para uma crise que vai durar 12 ou 18 meses, seguida de uma recuperação lenta. Se terminar antes, será uma surpresa agradável. Neste momento, trabalhe para estabelecer sua serenidade, sua produtividade e seu bem-estar sob condições prolongadas de desastre.
Nenhum de nós sabe quanto tempo essa crise vai durar. Gostaríamos de receber nossas tropas de volta ao lar antes do Natal. Essa incerteza nos enlouquece.
Porém, virá o dia em que a pandemia estará acabada. Vamos abraçar nossos vizinhos e amigos. Vamos retornar às nossas salas de aula e cantinhos do café. Nossas fronteiras voltarão a se abrir para o livre movimento. Nossas economias, um dia, estarão recuperadas das recessões por vir.
Só que, agora, estamos no começo desta jornada. Muita gente ainda não entendeu o fato de que o mundo já mudou. Alguns membros da faculdade sentem-se distraídos ou culpados por não conseguir escrever muito ou dar aulas online apropriadas. Outros usam todo seu tempo em casa para escrever e relatam um surto de produtividade. Tudo isso é ruído — negação e ilusão. Neste momento, essa negação só serve para atrasar o processo fundamental da aceitação, que permite que a gente possa se reinventar nessa nova realidade.
Do outro lado desta jornada de aceitação estão a esperança e a resiliência. Nós sabemos que podemos passar por isso, mesmo que dure anos. Nós seremos criativos e responsivos; vamos lutar em todas as brechas e recantos possíveis. Vamos aprender novas receitas e fazer amizades desconhecidas. Faremos projetos que nem podemos imaginar hoje e vamos inspirar estudantes que ainda estamos para conhecer. E vamos nos ajudar mutuamente. Não importa o que vier depois: juntos, estaremos preparados e fortalecidos.
Por fim, gostaria de agradecer aos colegas e amigos que vivem em lugares difíceis, que sentem na própria pele essa sensação de desastre. Nos últimos anos, rimos ao trocar lembranças sobre as dores da infância e exultamos sobre nossas tribulações. Agradecemos à resiliência que veio com nossas velhas feridas de guerra. Obrigado a vocês por serem os guerreiros da luz e por partilhar de sua sabedoria nascida do sofrimento — porque a calamidade é uma grande professora.