quinta-feira, 26 de março de 2020

CALENDÁRIO VACINAL DA CRIANÇA E A PANDEMIA PELO CORONAVÍRUs



Em meio à pandemia do novo coronavírus (SARSCoV-2), recém-decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e a confirmação da circulação sustentada do vírus no país, muito tem se discutido a respeito da melhor orientação a ser dada sobre a vacinação rotineira das crianças num cenário de distanciamento social vigente, situação sem precedentes.

Ao mesmo tempo em que o isolamento e a limitação na circulação de pessoas reduz a transmissão, não só do SARSCoV-2, mas de outros patógenos, o não comparecimento de crianças às unidades de saúde para atualização do calendário vacinal, pode impactar nas coberturas vacinais e colocar em risco a saúde de todos, especialmente frente à situação epidemiológica do sarampo, febre amarela e coqueluche que vivenciamos atualmente.

As Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP) e a de Imunizações (SBIm), levando em conta este difícil momento que enfrentamos, busca, com essa iniciativa, colaborar com as estratégias públicas e privadas no enfrentamento desta questão.

Considerando que:
1)     O Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil é um programa de muito sucesso, e adquiriu, ao longo dos anos, credibilidade e confiança da população que não permitem retrocessos;

2)     O cenário epidemiológico do sarampo e da febre amarela no país, ambas as doenças imunopreveníveis, requer constante investimento em ações de imunizações;

3)     O controle da coqueluche e da febre amarela e a eliminação do sarampo e da rubéola são dependentes de elevadas coberturas vacinais;

4)     O distanciamento social proposto pelo Ministério da Saúde, neste momento, é ferramenta crucial para se obter a redução no número de infectados pelo novo coronavírus durante as próximas semanas;

5)     As crianças imunocompetentes, em geral, têm sido poupadas das formas graves da doença e, por outro lado, os idosos são os grupos mais vulneráveis com mortalidade desproporcional em relação às demais faixas etárias.

A SBP e a SBIm sugerem que:

1)     A oferta das vacinas deve ser mantida de maneira regular e sustentada pelo PNI.
2)     A população deve ser encorajada a manter o calendário vacinal atualizado, procurando visitar a unidade de saúde mais perto de suas residências e em horários menos concorridos;
3)     As estratégias de distanciamento, especialmente de idosos, devem ser desenvolvidas de acordo com a realidade de cada local;
4)     A vacinação em ambientes como escolas, clubes e igrejas, neste momento áreas ociosas, deve ser estimulada;
5)     Horários diferenciados para a vacinação de crianças e adolescentes devem ser criados;
6)     Sempre que possível, a vacinação domiciliar é uma opção a ser considerada;
7)     O calendário deve ser otimizado, com a aplicação do maior número de vacinas possível na mesma visita, desde que se respeite o intervalo mínimo entre as doses, com o objetivo de reduzir o número de visitas às unidades de saúde;
8)     Clínicas privadas de imunização devem organizar seus serviços a fim de manter o distanciamento social exigido nesse momento;
9)     Não há evidências sobre a interação da COVID19 e a resposta imune às vacinas. Para reduzir a disseminação da doença, qualquer pessoa com sintomas respiratórios ou febre, deverá ser orientada a não comparecer aos centros de vacinação;
10)           Casos suspeitos ou confirmados de COVID19 poderão ser vacinados após a resolução dos sintomas e passado o período de 14 dias do isolamento.

Campanhas:

Em relação à campanha de vacinação contra o influenza, onde a abordagem de idosos é uma prioridade, a suspensão temporária da vacinação rotineira a de crianças por um curto período pode ser considerada, com o intuito de reduzir a exposição aos idosos.

As sociedades ainda ressaltam que qualquer alteração na rotina de vacinação, como parte da estratégia de enfrentamento da pandemia de COVID19, deve ser comunicada aos profissionais da saúde e à população de maneira clara e oportuna, bem como seu caráter provisório.

Pais e filhos em confinamento durante a pandemia de COVID-19




- Fonte – Departamento Científico da Sociedade Brasileira de Pediatria

Diante da pandemia de COVID-19 é essencial o suporte das famílias na prevenção dos prejuízos à saúde e ao desenvolvimento das crianças.

A necessidade de permanecer em casa foi uma medida extrema que modifica completamente o funcionamento da vida das famílias e certamente essa situação surgiu como um fator adicional e muitas famílias ainda não conseguiram se organizar nessa nova modalidade no dia a dia.
 As crianças não estão indo às escolas, os avós não podem contribuir no monitoramento delas, os pais precisam trabalhar em esquema de home office e lidar, ao mesmo tempo, com os afazeres da casa, os cuidados com as crianças que agora passaram a ser em tempo integral, as compras e saídas restritas, as preocupações financeiras e também lidar com as informações sobre a pandemia que nem sempre chegam de forma clara.

Os pilares da saúde e do desenvolvimento precisam ser respeitados e, quando existe uma situação de adversidade que aumenta muito o estresse como nessa situação de pandemia, onde ele é elevado e diário, ele pode ser tóxico: portanto, o conceito de estresse tóxico deve ser conhecido e as medidas tomadas para que ele seja prevenido, a fim de se evitar prejuízos maiores a longo prazo. Situações de adversidades determina resposta fisiológica de elevação dos hormônios do estresse na infância, como o cortisol e adrenalina, com consequências de sobrecarga do sistema cardiovascular e riscos à construção saudável da arquitetura cerebral das crianças. Isso pode acarretar várias consequências a curto prazo, como transtornos do sono, irritabilidade, piora da imunidade, medos, e a médio e longo prazo, como maior prevalência de atrasos no desenvolvimento, de transtorno de ansiedade, de depressão, queda no rendimento escolar e estilo de vida pouco saudável na vida adulta.

Assim sendo, a aplicação das práticas baseadas em evidências pode contribuir na preservação do bem estar das nossas crianças e adolescentes e, de acordo com as pesquisas das Neurociências e das publicações científicas recentes, o DC de Pediatria do Desenvolvimento e Comportamento fornece algumas dicas importantes para os pais nesse momento de pandemia:

01.Os adultos devem realizar momentos de diálogo para discussão das atividades prioritárias do dia a dia, das necessidades básicas da casa, da divisão de tarefas e obrigações. Deve-se organizar os horários do trabalho de cada um dos pais, tentando intercalar os períodos para os demais afazeres da casa e das crianças.

02.Discutir em família o papel que cada adulto possui em fornecer o suporte para que o estresse não se torne tóxico para as crianças e adolescentes.

03.Ensinar como higienizar as mãos e que esse cuidado deve ser um hábito diário, mesmo após a pandemia acabar. Além disso, orientar como espirrar com proteção, como utilizar os seus utensílios, como evitar o contato físico e como se cuidar de forma lúdica, com músicas, leituras e brincadeiras.

04.Conversar com os seus filhos sobre a situação atual, com linguagem simples e adequada para cada idade da criança. As orientações devem ser transmitidas de forma tranquila a fim de evitar a elevação do estresse, do medo e da ansiedade no nível de chegar a comprometer a imunidade e saúde mental dos pequenos. Explicar que as medidas são de prevenção, mas que podemos esperar bons desfechos. Dar abertura para que eles possam expressar seus sentimentos e suas dúvidas em um ambiente acolhedor e de apoio mútuo.

05.Realizar o planejamento de agenda dos filhos juntamente com eles, incentivando- -os a organizar horários equilibrados para manter as atividades de estudo, leitura, música, atividade física, sono e tempo de tela, respeitando os limites da rotina saudável, além dos intervalos de ócio criativo para que a própria criança faça reflexões e brincadeiras que irão ajudá-la a superar esse momento.

06.Manter a dieta e a ingesta de líquidos adequada para cada idade. Os alimentos possuem papel no crescimento, na prevenção de doenças e na formação da arquitetura cerebral. O aleitamento materno exclusivo até o sexto mês e mantido até os dois anos é de grande relevância. Chamar atenção para o sobrepeso e obesidade.

07.Intercalar períodos de atividades físicas dentro do lar em mais de um horário do dia nos turnos da manhã e da tarde e, se possível, fazer as atividades em conjunto pais e filhos. Estimular a criança e o adolescente a ser criativo para realizar essas atividades em casa que podem ser de circuitos feitos com travesseiros e garrafas plásticas, pular corda, dançar, artes marciais dentre outros.

08.Estimular atividades no quintal, na varanda ou próximo a locais mais arejados da casa ou apartamento.

09.Usar a tecnologia a favor de todos. Definir com as crianças os horários para o uso saudável das telas, segundo as recomendações da Sociedade Brasileira de Pediatria, evitando ultrapassar os limites e o acesso sem supervisão a conteúdos inadequados.

10.Definir horários para jogos online com os amigos e para videoconferências com os avós (visualizar os avós em boa saúde pode tranquilizar as crianças). Estimular os avós a terem conversas alegres e momentos de descontração durante os contatos à distância.

11.Inserir as crianças e adolescentes nas tarefas domésticas respeitando a capacidade de acordo com a idade de cada um. Incentivar o ensino colaborativo supervisionado enquanto realizar essas atividades e aproveitar para ensinar afazeres de forma alegre e prazerosa, pois isso pode trazer grande aprendizado para a criança e adolescente.

12.Converse com as crianças e adolescentes para que eles respeitem os momentos que os adultos precisam trabalhar de forma mais concentrada. Tentar sincronizar o horário dessa necessidade com a agenda de um filme ou alguma atividade em que a criança não necessite de tanta supervisão.

13.Reservar um a dois momentos do dia para que os adultos possam se atualizar em relação às informações, sem expor as crianças a conteúdos inadequados. A maioria das informações repassadas pelas mídias são direcionadas para o público adulto e cabe aos pais limitar o acesso das crianças, repassando o que for necessário com linguagem adequada.

14.Incluir na agenda pausas durante o dia para que a família possa estar unida de forma alegre e prazerosa. Tente realizar as refeições junto com as crianças abordando temas construtivos. Praticar as técnicas de atenção plena e de relaxamento.

15.Seja você o modelo de comportamento que espera de seus filhos. Portanto, os pais devem evitar excesso de tela, manter o lar harmonioso e demonstrar de forma assertiva e genuína como lidar com equilíbrio com essa situação adversa só traz benefícios na construção de um cérebro saudável na infância.

16.Deixar claro para todos que o momento não é de férias e sim de uma situação emergencial transitória de reorganização do formato em que as atividades cotidianas devem ser cumpridas.

17.A Sociedade Brasileira de Pediatria está empenhada em minimizar os impactos na saúde das crianças e dos adolescentes e incentiva a divulgação de informações científicas para a comunidade.



terça-feira, 17 de março de 2020

Covid-19 - Minhas observações.


Diante do enorme alarme em relação ao surto de Covid-19, faço as seguintes observações:

- Os casos irão aumentar sim, nas próximas semanas.
- As pessoas mais sujeitas a complicações são as mesmas que complicam com acometimento dos vírus que causam a “gripe comum”. Idosos maiores de 60 anos, hipertensos, diabéticos, cardiopatas, asmáticos, tabagistas, imunodeprimidos como pacientes em tratamento de câncer, HIV ou uso de corticoides por períodos prolongados ou em doses elevadas, etc.
- A determinação de suspender as aulas tem o objetivo de tentar evitar o rápido aumento do número de casos, evitando assim a grande demanda por atendimentos de saúde, o que pode gerar um caos sem necessidade.
- No entanto, observo que estamos ainda na transição do verão- outono com temperaturas mais altas, o que além de dificultar a proliferação viral, há poucas pessoas com sintomas respiratórios. Isso também permite ambientes escolares mais abertos, ventilados e também ao ar livre. No período crítico de baixas temperaturas que ainda vamos passar, as aulas serão suspensas outra vez???
- Em qualquer época, os alunos com sintomas respiratórios não devem ir à escola e procurar esclarecimento diagnóstico através de atendimento médico.
- Devemos continuar a realização de todas as medidas preventivas de transmissão de doenças respiratórias que são amplamente divulgadas todos os anos.
- Não podemos a partir de agora, entrar em pânico e achar que todo sintoma respiratório é causado pelo Coronavírus.
- Todas as medidas preventivas devem ser feitas para evitar a transmissão de qualquer doença respiratória. Essas orientações são passadas todos os anos e pouco seguidas. O número de óbitos pelo Vírus H1N1 é muito significativo e mesmo assim há algumas pessoas que por ignorância, fazem campanha contra a vacina.
- Oriento que tão logo inicie a campanha vacinal, os grupos indicados ou todos que puderem, procurem se vacinar. A vacina protege contra os principais vírus causadores da gripe evitando também as complicações. E nos pacientes vacinados vai ajudar inclusive a pensar em outras possibilidades infecciosas que não os vírus da vacina.
- E parem por favor com a ignorância de divulgar que a vacina da gripe causa gripe, que é feita pra matar idosos e coisas do tipo.
Vida que segue...

Ass. Rodrigo Cavalcanti Gonçalves
Médico Pediatra. CRM-MG: 32621 / SBP: 124.256