Em meio à pandemia do novo coronavírus (SARSCoV-2),
recém-decretada pela Organização Mundial da Saúde (OMS), e a confirmação da
circulação sustentada do vírus no país, muito tem se discutido a respeito da
melhor orientação a ser dada sobre a vacinação rotineira das crianças num
cenário de distanciamento social vigente, situação sem precedentes.
Ao mesmo tempo em que o isolamento e a limitação na
circulação de pessoas reduz a transmissão, não só do SARSCoV-2, mas de outros
patógenos, o não comparecimento de crianças às unidades de saúde para
atualização do calendário vacinal, pode impactar nas coberturas vacinais e
colocar em risco a saúde de todos, especialmente frente à situação
epidemiológica do sarampo, febre amarela e coqueluche que vivenciamos
atualmente.
As Sociedades Brasileiras de Pediatria (SBP) e a de
Imunizações (SBIm), levando em conta este difícil momento que enfrentamos,
busca, com essa iniciativa, colaborar com as estratégias públicas e privadas no
enfrentamento desta questão.
Considerando que:
1)
O
Programa Nacional de Imunizações (PNI) do Brasil é um programa de muito
sucesso, e adquiriu, ao longo dos anos, credibilidade e confiança da população
que não permitem retrocessos;
2)
O
cenário epidemiológico do sarampo e da febre amarela no país, ambas as doenças
imunopreveníveis, requer constante investimento em ações de imunizações;
3)
O
controle da coqueluche e da febre amarela e a eliminação do sarampo e da
rubéola são dependentes de elevadas coberturas vacinais;
4)
O
distanciamento social proposto pelo Ministério da Saúde, neste momento, é
ferramenta crucial para se obter a redução no número de infectados pelo novo
coronavírus durante as próximas semanas;
5)
As
crianças imunocompetentes, em geral, têm sido poupadas das formas graves da
doença e, por outro lado, os idosos são os grupos mais vulneráveis com
mortalidade desproporcional em relação às demais faixas etárias.
A SBP e a SBIm sugerem que:
1) A oferta das vacinas deve ser mantida
de maneira regular e sustentada pelo PNI.
2) A população deve ser encorajada a
manter o calendário vacinal atualizado, procurando visitar a unidade de saúde
mais perto de suas residências e em horários menos concorridos;
3) As estratégias de distanciamento,
especialmente de idosos, devem ser desenvolvidas de acordo com a realidade de
cada local;
4) A vacinação em ambientes como
escolas, clubes e igrejas, neste momento áreas ociosas, deve ser estimulada;
5) Horários diferenciados para a
vacinação de crianças e adolescentes devem ser criados;
6) Sempre que possível, a vacinação
domiciliar é uma opção a ser considerada;
7) O calendário deve ser otimizado, com
a aplicação do maior número de vacinas possível na mesma visita, desde que se
respeite o intervalo mínimo entre as doses, com o objetivo de reduzir o número
de visitas às unidades de saúde;
8) Clínicas privadas de imunização devem
organizar seus serviços a fim de manter o distanciamento social exigido nesse
momento;
9) Não há evidências sobre a interação
da COVID19 e a resposta imune às vacinas. Para reduzir a disseminação da
doença, qualquer pessoa com sintomas respiratórios ou febre, deverá ser
orientada a não comparecer aos centros de vacinação;
10)
Casos
suspeitos ou confirmados de COVID19 poderão ser vacinados após a resolução dos
sintomas e passado o período de 14 dias do isolamento.
Campanhas:
Em relação à campanha de vacinação contra o influenza, onde a
abordagem de idosos é uma prioridade, a suspensão temporária da vacinação
rotineira a de crianças por um curto período pode ser considerada, com o
intuito de reduzir a exposição aos idosos.
As sociedades ainda ressaltam que qualquer alteração na
rotina de vacinação, como parte da estratégia de enfrentamento da pandemia de
COVID19, deve ser comunicada aos profissionais da saúde e à população de
maneira clara e oportuna, bem como seu caráter provisório.
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