Estudos apontam que, na malha rodoviária brasileira, os veículos de carga sejam responsáveis por mais de 90 mil ocorrências anuais, com um prejuízo direto de cerca de R$4 bilhões, considerando custos médico-hospitalares, perda de carga, danos ao veículo e outros custos adicionais. Se incluído no cálculo o rendimento futuro das vítimas, esse prejuízo se eleva para mais de R$7 bilhões ao ano.
Discurso do Sr Antônio Bulhões:
Sr. Presidente, Sras. e Srs. Deputados, subo à tribuna para abordar um dos maiores problemas do trânsito brasileiro: a jornada exaustiva e as condições de trabalho adversas que enfrentam os motoristas, em particular os de veículos pesados.
Mais que um problema de trânsito, essa é uma questão de economia e de saúde pública.
Estudos vários comprovam que o longo tempo de direção e as condições impostas no exercício dessa atividade aumentam potencialmente o número de acidentes de trânsito e, dessa forma, contribuem para todos os problemas conexos, seja a morte nas estradas, seja a superlotação dos hospitais, seja o estresse emocional advindo dos acidentes, seja o prejuízo material causado pelos mesmos.
Segundo apurou a Associação Brasileira de Medicina de Tráfego - ABRAMET, o motorista sofre com o barulho do trânsito, com a vibração e com a toxicidade - esses são riscos biológicos -, além de estar exposto ao risco ergonômico e aos riscos psicológicos, como ansiedade, medo da violência crescente nas estradas, solidão e outros, que transformam a profissão numa atividade penosa. Avalia a Associação que o motorista está submetido a 4 ou 5 riscos simultâneos.
Seguramente, isso vai lesar o organismo desses profissionais e trazer transtornos vários, que desencadeiam doenças circulatórias, dores musculares e articulares, problemas de audição, de respiração e muitas outras enfermidades. Além disso, a exposição constante a esses riscos agrava-se com a privação do sono e a exaustão, fatores que diminuem a atenção do motorista e aumentam potencialmente o número de acidentes.
Estudos apontam que, na malha rodoviária brasileira, ocorrem cerca de 300 mil acidentes anuais. Avalia-se que os veículos de carga sejam responsáveis por mais de 90 mil dessas ocorrências e por um prejuízo imediato de cerca de R$4 bilhões, se considerados os custos médico-hospitalares, a perda de carga, os danos ao veículo e outros custos adicionais. Se incluído no cálculo o rendimento futuro das vítimas, esse prejuízo se eleva para mais de R$7 bilhões ao ano.
Seguramente, esses números têm impacto direto nos resultados econômicos. Entretanto, mais grave que isso é o impacto na vida das pessoas.
Em entrevista recente, o Dr. Dirceu Rodrigues Alves Júnior, Diretor do Departamento de Medicina Ocupacional da ABRAMET, afirmou que "a jornada ideal de trabalho para os motoristas de ônibus e caminhão seria de, no máximo, seis horas diárias". Estima-se, porém, que o tempo médio de trabalho dos motoristas brasileiros seja de 16 horas por dia.
Com essa jornada absurda, na tentativa de prolongar o estado de alerta, os profissionais acabam buscando as drogas.
Há muito, cafeína e anfetaminas vêm sendo usadas como "rebite", uma prática danosa à saúde dos motoristas e, certamente, mais um fator de risco nas estradas. Agora, esse risco se acentua.
Matéria recente da Agência Estado destaca que, agora, também a cocaína vem sendo usada como "rebite" pelos caminhoneiros que buscam uma forma mais eficaz de permanecer acordados. A matéria destaca que estudo da Faculdade de Medicina da USP constatou que, em um grupo de 308 motoristas pesquisados, 3,5% confessaram ter usado a droga. Considerando-se as possíveis omissões, pode-se deduzir que esse número seja ainda maior. O fato é de enorme gravidade e pode contribuir para o aumento das estatísticas de acidente, Sr. Presidente.
Diante disso, impõe-se de modo imperativo e inadiável a redução de jornada, o que requer legislação consonante com o reconhecimento desses problemas e fiscalização eficaz para seu efetivo cumprimento.
Nesse sentido, chamo a atenção dos nobres pares para a necessidade de ouvirmos a categoria, procurarmos entender suas reivindicações e, baseados nisso, analisarmos com celeridade as matérias que tramitam na Casa e, se necessário, propormos outras que possam atender à legitimidade e à urgência de seus pleitos.
A propósito, lembro que recentemente o PL nº 2.660, de 1996, aprovado por esta Casa e pelo Senado, foi integralmente vetado pelo Executivo, sob a alegação de que a redação da proposta a tornava inexequível. Se o projeto apresenta imperfeições, é preciso que encontremos maneiras para saná-las. Assim, estaremos contribuindo para evitar a ocorrência de tantos acidentes e mortes, nobres Colegas.
De minha parte, manifesto meu compromisso inarredável com a questão, Sr. Presidente.
Muito obrigado.
fonte: ammetra
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Após moderação, se o comentário não for desrespeitoso, preconceituoso, relacionado a sites ou comentários desonestos, será postado.