» DIOCLÉCIO CAMPOS JÚNIOR
Professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e representante da SBP no Global Pediatric Education Consortium
» EDUARDO DA SILVA VAZ
Médico, é presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria
Professor emérito da UnB, ex-presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria e representante da SBP no Global Pediatric Education Consortium
» EDUARDO DA SILVA VAZ
Médico, é presidente da Sociedade Brasileira de Pediatria
Publicação: 09/08/2013 04:00
Os governos insistem em medidas paliativas para resolver os enormes desafios da saúde pública brasileira. Parecem desconhecer a verdadeira gênese das doenças que assolam o país e infernizam a vida dos cidadãos. Investem quase nada em políticas que contribuam para o inadiável saneamento capaz de conferir condições de vida identificadas com o bem-estar físico, mental e social do indivíduo. Ao contrário, entendem promoção de saúde como tratamento de doenças. Por esse motivo, históricos e respeitáveis sanitaristas definem o Brasil como um imenso hospital.
O aumento da quantidade de doentes que povoam o cotidiano da sociedade é preocupante. Tanto nos rincões da miséria, quanto na pobreza que se avoluma na periferia urbana, fica patente a estreita relação entre as penúrias extremas em que sobrevivem as pessoas e os agravos físicos, o sofrimento orgânico e os danos mentais que exteriorizam as diversas morbidades com as quais estão condenadas a conviver. As causas da maioria das moléstias que afetam nossa gente são torpezas intrínsecas ao modelo de sociedade implantada, desde o período colonial, numa pátria amada e idolatrada que perpetua as desigualdades e consagra privilégios.
Não é o crescimento do PIB nem a distribuição generosa de bolsas que desfaz iniquidades geradoras da multidão de enfermos socorrida por enganosas estratégias como o programa Mais Médicos. O número desses profissionais nunca será suficiente para atender a demanda que não para de crescer. Dizer que faltam médicos no país é ludibriar a população, levá-la a crer que os buracos da saúde possam ser tapados mediante a mera proliferação de cursos de medicina e a importação de médicos estrangeiros cuja qualidade será sequer avaliada.
Em nenhum momento os governos têm a dignidade de reconhecer, com a devida ênfase, que a solução justa, real e inadiável para o problema é a adoção de políticas públicas prioritárias que façam convergir investimentos para diminuir o contingente de pessoas enfermas no país. É o único caminho que conduzirá ao equilíbrio entre a procura e a oferta de profissionais no âmbito da saúde pública.
Defender que basta produzir, importar e distribuir mais médicos em todo território nacional para melhorar o acesso da população à assistência médica reproduz a lógica que fez agigantar a frota de automóveis em todas as cidades. O objetivo era qualificar o acesso do povo à mobilidade urbana. O caráter mistificador da medida salta aos olhos. A mobilidade ficou ainda pior. O governo não investiu na erradicação da causa que está na origem do problema, qual seja a precariedade absoluta do sistema de transporte público, que permanece intocada.
Mais médicos para os discriminados não reduzirá a discriminação. As moradias seguirão paupérrimas, infectas, infectantes. O acesso à água potável, um sonho que termina no pesadelo da contaminação. O esgoto a céu aberto, por onde circulam dejetos e resíduos fecais, não desaparece da paisagem dos entornos urbanos nem de ruelas e vilarejos rurais. Moscas, mosquitos, ratos e baratas interagem estreitamente com os moradores de choças, palhoças, barracos, choupanas e casebres, transmitindo vírus, bactérias e parasitas que infestam, adoecem, sacrificam a maior parte de suas vidas.
A poluição atmosférica é cada vez mais pesada no ar respirado nas cidades. Produzida pela fumaça dos equipamentos industriais e pelos veículos automotivos, reduz a qualidade de vida, encurta o tempo existencial e desencadeia enfermidades respiratórias que sobrecarregam as unidades de atendimento médico. Os acidentes de trânsito, responsáveis por cerca de 40 mil óbitos anuais, geram portadores de sequelas, vítimas de deficiências de toda natureza. A violência palpita ruidosamente como grave arritmia social que atinge o coração da sociedade. Medo, incerteza, insegurança são ingredientes do pernicioso estresse que corrói as entranhas humanas, criando o caldo de cultura para graves e crônicas doenças que atingem expressiva parcela de habitantes.
Esse dantesco horizonte da saúde não se resolve com mais médicos. Nem com caridade. Requer, acima de tudo, respeito ao ser humano traduzido em ações urgentes, honestas, coerentes, transformadoras da deplorável realidade que os governos não parecem interessados em reverter. Preferem o imediatismo de atos que simulam compromisso, no claro intuito de fazer alguma coisa para que tudo fique como está. Em vez de Mais Médicos, o programa do governo deveria ser Menos doentes para o Brasil.
O aumento da quantidade de doentes que povoam o cotidiano da sociedade é preocupante. Tanto nos rincões da miséria, quanto na pobreza que se avoluma na periferia urbana, fica patente a estreita relação entre as penúrias extremas em que sobrevivem as pessoas e os agravos físicos, o sofrimento orgânico e os danos mentais que exteriorizam as diversas morbidades com as quais estão condenadas a conviver. As causas da maioria das moléstias que afetam nossa gente são torpezas intrínsecas ao modelo de sociedade implantada, desde o período colonial, numa pátria amada e idolatrada que perpetua as desigualdades e consagra privilégios.
Não é o crescimento do PIB nem a distribuição generosa de bolsas que desfaz iniquidades geradoras da multidão de enfermos socorrida por enganosas estratégias como o programa Mais Médicos. O número desses profissionais nunca será suficiente para atender a demanda que não para de crescer. Dizer que faltam médicos no país é ludibriar a população, levá-la a crer que os buracos da saúde possam ser tapados mediante a mera proliferação de cursos de medicina e a importação de médicos estrangeiros cuja qualidade será sequer avaliada.
Em nenhum momento os governos têm a dignidade de reconhecer, com a devida ênfase, que a solução justa, real e inadiável para o problema é a adoção de políticas públicas prioritárias que façam convergir investimentos para diminuir o contingente de pessoas enfermas no país. É o único caminho que conduzirá ao equilíbrio entre a procura e a oferta de profissionais no âmbito da saúde pública.
Defender que basta produzir, importar e distribuir mais médicos em todo território nacional para melhorar o acesso da população à assistência médica reproduz a lógica que fez agigantar a frota de automóveis em todas as cidades. O objetivo era qualificar o acesso do povo à mobilidade urbana. O caráter mistificador da medida salta aos olhos. A mobilidade ficou ainda pior. O governo não investiu na erradicação da causa que está na origem do problema, qual seja a precariedade absoluta do sistema de transporte público, que permanece intocada.
Mais médicos para os discriminados não reduzirá a discriminação. As moradias seguirão paupérrimas, infectas, infectantes. O acesso à água potável, um sonho que termina no pesadelo da contaminação. O esgoto a céu aberto, por onde circulam dejetos e resíduos fecais, não desaparece da paisagem dos entornos urbanos nem de ruelas e vilarejos rurais. Moscas, mosquitos, ratos e baratas interagem estreitamente com os moradores de choças, palhoças, barracos, choupanas e casebres, transmitindo vírus, bactérias e parasitas que infestam, adoecem, sacrificam a maior parte de suas vidas.
A poluição atmosférica é cada vez mais pesada no ar respirado nas cidades. Produzida pela fumaça dos equipamentos industriais e pelos veículos automotivos, reduz a qualidade de vida, encurta o tempo existencial e desencadeia enfermidades respiratórias que sobrecarregam as unidades de atendimento médico. Os acidentes de trânsito, responsáveis por cerca de 40 mil óbitos anuais, geram portadores de sequelas, vítimas de deficiências de toda natureza. A violência palpita ruidosamente como grave arritmia social que atinge o coração da sociedade. Medo, incerteza, insegurança são ingredientes do pernicioso estresse que corrói as entranhas humanas, criando o caldo de cultura para graves e crônicas doenças que atingem expressiva parcela de habitantes.
Esse dantesco horizonte da saúde não se resolve com mais médicos. Nem com caridade. Requer, acima de tudo, respeito ao ser humano traduzido em ações urgentes, honestas, coerentes, transformadoras da deplorável realidade que os governos não parecem interessados em reverter. Preferem o imediatismo de atos que simulam compromisso, no claro intuito de fazer alguma coisa para que tudo fique como está. Em vez de Mais Médicos, o programa do governo deveria ser Menos doentes para o Brasil.
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