ass. Rodriguim
Até algum tempo atrás, eu era um voraz consumidor de revistas estrangeiras dos mais diversos assuntos. Uma delas, sobre aviação de pequeno porte aero-desportiva, trazia uma coluna onde eram analisados 10 acidentes ocorridos naquele mês nos Estados Unidos segundo o laudo da NTSB (National Transportation Safety Board). O curioso disto é que, na maioria das vezes, os 10 acidentes eram causados por erro de operação da aeronave ou erro de julgamento do piloto, ficando praticamente claro que o avião na cai, nós é que o derrubamos.
Mas o que isso tem a ver com o mundo das duas rodas. Bem, chegarei lá.
Recentemente, tive a oportunidade de acompanhar quatro turmas em um curso básico de pilotagem de motocicletas. Esses quatro grupos tinham uma formação bem eclética. Havia alunos que ainda não tinham comprado a moto, mas sempre andavam nas dos amigos. Outros que andavam somente em longas viagens e já tinham viajado por diversos países. Gente que utilizava a motocicleta todos os dias para deslocamento ao trabalho e para lazer e que contava com mais de 40 anos de experiência. Até mesmo alguns que já tinham se aventurado em competições dentro e fora da estrada.
O mais incrível nisto tudo é que, apesar de muita experiência e conhecimento, a maior parte deles desconhecia regras básicas de pilotagem e não conseguiam realizar os exercícios em baixa velocidade, devido a vícios de pilotagem e erros básicos de interpretação. Vou citar algumas falhas mais comuns que percebi nos alunos e que tornavam os mais simples exercícios impossíveis de realizar: acionamento errado da embreagem; posição errada dos braços, do corpo e dos pés; fixação da visão no ponto errado da saída de curva; erro de operação durante uma frenagem de emergência; acionamento do freio errado dependendo da manobra.
Vocês podem achar que é exagero meu, dizer que acionar a embreagem de modo incorreto impossibilita o perfeito controle da moto. Pois é, também achava que era um detalhe insignificante, mas os alunos só conseguiam fazer a pista de cones quando aceitavam as orientações do instrutor e brigavam contra este vício de pilotagem.
Outra informação que chamou muito a minha atenção foi a de que se você está a 54 km/h e na posição certa na motocicleta (o corpo, os pés e as mãos corretamente posicionados e atento para uma emergência), quando essa emergência acontece, você anda cerca de 10 metros antes de conseguir iniciar a frenagem da moto. Sim, você leva 0,8 segundo para perceber a emergência, iniciar a reação e os freios começarem a agir.
Apenas a título de curiosidade, quando você anda no corredor a 50 km/h, você está ciente de que, se algo acontecer a 10 metros na sua frente, você vai acabar batendo sem ao menos frear a moto. E neste cálculo não coloquei as variáveis como: tipo e condições de piso, dos freios e se sua moto está ou não equipada com ABS.
Após assistir este curso e acompanhar estas turmas, passei a acreditar que em muitos dos acidentes que temos visto por aí a culpa seja do motociclista. Tudo bem… se um carro entrou na sua frente de repente… não interessa, você deveria estar mantendo uma distância segura e estar pronto para reagir da maneira certa, conhecendo seus limites e os de seu equipamento e não deixar sua segurança e até mesmo sua vida na mão dos outros. Você não pode esperar que os motoristas dos carros tenham o bom senso ou habilidade necessários para evitar que uma manobra ponha o motociclista ao lado deles em risco. Se eles errarem, eles têm o para-choque. Neste caso, você tem de ser proativo e estar preparado (atento, bem posicionado e conhecer os limites de seu equipamento), para evitar acidentes.
Quando se anda de moto, não podemos achar que o outro fará a parte dele. Temos de estar preparados para fazer a nossa parte e também a dos outros. Imaginar como faríamos se o impossível acontecesse. Em uma aeronave de pequeno porte, estamos sempre preparados para uma possível pane e estudando qual a melhor alternativa para um pouso de emergência.
Bem, volto ao ponto inicial ressaltando que alguns acidentes acontecem por má utilização do equipamento, onde talvez o piloto não conheça os limites de sua moto. Se você não souber como ela se comporta em uma frenagem de emergência (por nunca ter treinado este tipo de manobra), como dosar os freios para que não haja travamento das rodas ou quais os limites de estabilidade de seu equipamento, em uma situação de pânico, a chance de você cair ou bater é muito grande, por isso, treine.
Acidentes ocorrem também por erro de julgamento dos pilotos, sejam eles de aviões ou de moto. Erros simples como não manter uma distância segura de outro veículo, estar na velocidade errada para uma determinada situação ou focar a visão no ponto errado em uma curva.
Não estou aqui querendo condenar os motociclistas. Quero alertar para o fato de que talvez o que você aprendeu nestes anos todos não seja o correto e isso pode lhe custar um acidente e talvez a vida. Quero lembrar que mensalmente habilitamos inúmeros motociclistas que tiveram um curso de moto-escola ridículo e sem o menor fundamento. Fiz uma moto-escola, há alguns anos atrás, e nunca havia aprendido nada sobre como frear, quais as distâncias seguras e o correto posicionamento de mãos e pés.
Se você já fez um curso destes, de pilotagem básica, repare no seu dia-a-dia a quantidade de erros cometidos pelos motociclistas à sua volta. O que mais vemos por aí são pés para baixo, cotovelos colados no corpo e muitos erros grosseiros de condução. Se você considera isto bobagem e acha que não faz a menor diferença na pilotagem e na segurança, está na hora de procurar um bom curso básico e reavaliar seus parâmetros.
Enviado por Rafael Barbieri.
Fantástico este artigo. Infelizmente hoje aprende-se a tirar carteira. Sei que hoje não tenho mais a habilidade que tinha antigamente em moto e carro, mas os treinos do passado, as curvas cada vez mais rápidas, as derrapagens controladas que eram as infrações "loucuras" da época me livraram de um grave acidente indo a Prado no ano passado como o próprio Rodrigo pode testemunhar. A velocidade e aceleração da menor das motocicletas já não é páreo para muitos carros potentes. As grandes motocicletas atingem velocidades maiores que 200 km/h em espaços que só quem entende pode acreditar. E lembre-se 200 Km/h equilave a 55 metros por segundo, ou seja um km em pouco mais que 18 segundos... PENSE NISSO>
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