quinta-feira, 14 de maio de 2009

Trânsito na veia


São Paulo já ultrapassou a marca de 6 milhões de veículos. No mundo, já há um bilhão, segundo dado divulgado pela Organização Mundial da Indústria Automobilística. Onde vamos parar? Já paramos. Tanto em cidades brasileiras quanto em cidades de outros países, congestionamentos são constantes, fazendo parte da vida de moradores e pedestres. Enquanto isso, entre a primeira e a segunda marcha e vários minutos com o câmbio no ponto morto, o corpo sofre os efeitos do caos urbano. Mas nem sempre os motoristas percebem todas as consequências das horas passadas em congestionamentos.


O estresse crônico é o mais citado efeito do trânsito na saúde. "Presa no trânsito, a pessoa sofre um desgaste emocional muito grande. Isso pode se manifestar sob a forma de violência, o que, além do risco de causar danos a terceiros e à própria pessoa, cria mais um fator de tensão", diz Dirceu Rodrigues Alves Jr., chefe do departamento de medicina ocupacional da ABRAMET (Associação Brasileira de Medicina de Tráfego). Além de fomentar o aumento a violência, a equação trânsito/estresse pode ser o gatilho de distúrbios variados.

As dores nas costas e nas pernas são outros efeitos comuns do trânsito. Além do fato de o motorista ficar sentado por muito tempo, os movimentos repetitivos causam fadiga muscular e desgaste das articulações. Quem não dispõe de direção hidráulica corre mais risco de ter problemas na coluna. "A direção mecânica gera um esforço muito grande e pode causar danos às regiões lombar e cervical da coluna, além de afetar ombros e braços", diz Alves Jr., da Abramet. A direção hidráulica, que exige menos dos músculos, pode ajudar, mas não evita todos os problemas. "Os movimentos repetitivos para mudar de marcha, por exemplo, podem causar lesões tendinosas nos punhos, nos cotovelos e até nos ombros", diz Aves Jr.

Nos membros inferiores, os movimentos de frear, acelerar e pressionar a embreagem podem desgastar as articulações dos tornozelos. Nessa área do corpo, porém, os efeitos mais notáveis são os problemas circulatórios. "As pernas pode inchar, ficar doloridas. A posição também piora os efeitos das varizes", diz Walter Campos Jr., angiologista e cirurgião vascular do HC (Hospital das Clínicas) da USP (Universidade de São Paulo) e do Instituto H. Ellis, de São Paulo.

Procurar sair do carro e movimentar as pernas também é recomendado, especialmente quando a perspectiva é ficar muito tempo parado. Campos Jr. lembra que ficar sentado com as pernas encolhidas por mais de cinco horas é arriscado. "Em algumas pessoas, pode até levar à trombose venosa profunda", diz.

Um dos problemas que atinge tanto os motoristas quanto o pedestres é a poluição sonora causada pela combinação dos ruídos dos motores e do uso insistente e excessivo das buzinas. "Hoje, considera-se como limite a exposição a até 85 decibéis por oito horas. No horário de pico, chega-se facilmente a 90 decibéis. Parece pouco, mas, a cada cinco decibéis, a quantidade de pressão sonora dobra", diz Ektor Onishi, coordenador da campanha nacional de saúde auditiva de saúde auditiva da Sociedade Brasieiira de Otologia. A exposição a níveis excessivos de ruído pode levar à perda auditiva. Também causa sintomas como zumbido no ouvido. "O efeito do excesso de ruído, os sintomas mais comuns são dor de cabeça crônica, pressão alta, insônia e problemas gastrointestinais", enumera Onishi.

Como usar protetores auriculares é proibido pela legislação de trânsito, fechar as janelas do carro é o que resta para os motoristas. Janelas fechadas também diminuem a exposição à poluição atmosférica, outra fonte de problemas de saúde, que tem relação direta com o número de carros nas ruas. Nesse caso, os pedestres são os mais atingidos. A poluição gerada pelos veículos causa uma série de problemas no aparelho respiratório, como sinusite e bronquite asmática, além de irritação nos olhos e nas mucosas.

Um alerta de Alves Jr., da ABRAMET, é que o recurso de fechar as janelas pode levar a um outro problema. "A maioria das pessoas se esquece de fazer a limpeza e a manutenção do ar-condicionado, que costuma ser acionado quando o carro está todo fechado. Sem limpeza periódica, os condutos do aparelho servem como meio de cultura de microorganismos, como vírus e bactérias, que podem causar infecções e alergias respiratórias", diz o médico, que recomenda manutenção e limpeza do aparelho a cada três meses.

Fonte: Folha de São Paulo




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