quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Chega de Blá blá blá, quero respostas.

Não sou muito fã da fórmula 1 e há tempos venho assistindo as diversas competições esportivas com certo descrédito. Sempre há falcatrua envolvida, cartas marcadas e muito dinheiro em jogo. Mas uma coisa que me surpreende sempre, é o otimismo do Rubinho. Ontem ele deu uma entrevista dizendo que o ano pra ele já foi vitorioso.
Claro, cada um tem um ponto de vista e um
modo de reagir as diversas situações, mas vitorioso?
Lembrei daquela história do advogado que saía do fórum com um terno bem clarinho e uma pomba cagou no ombro dele. Ao amigo dizer: - que azar einh?? Ele respondeu: - maior sorte: já pensou se vaca voasse ?
Pois é, voltando ao Rubinho, fico pensando se ele não está certo em encarar a vida assim. O otimismo dele não demonstra um cara que nunca foi campeão. Ele sempre acha um lado positivo pra comentar sobre as derrotas, como o jornal mostrou ontem. “Em fevereiro eu estava desempregado,então já sou um vitorioso este ano”.
Mas será mesmo?
Quem sou eu pra analisar comportamento humano, mas chego a discordar. O importante é competir, mas o gostoso mesmo é vencer.
E é assim que procuro encarar a vida. Não basta ter seriedade e boa vontade, mas querer ver bons resultados. Até porque em medicina um mau resultado pode custar uma vida. E daí que vejo hoje, como é difícil a prestação de serviço médico. A correria do dia a dia, as remunerações ridículas que fazem o médico ficar correndo entre vários empregos, o atendimento corrido que deixa passar um detalhe importante que pode ceifar uma vida e um caso grave que não permite possibilidade de dedicação total pelo número de pessoas a serem atendidas, nos inúmeros locais em que o médico deve passar durante as apenas 24 horas que o dia possui.
Desde que larguei a pediatria sinto falta sim. É uma coisa que sempre fiz com responsabilidade e prazer, mas que tem também o seu lado estressante e extremamente desgastante. A pressão é total, a cobrança dos pais e a disponibilidade do médico andam juntas, muitas vezes na contra mão da realidade dos fatos e das pessoas.
Aos poucos ando fazendo alguns atendimentos no hospital e já penso em reabrir o meu serviço, mas sempre com um pé atrás.
Quero ser útil na vida e para a sociedade, mas quero ser útil e estar bem comigo também. E a pediatria consome. Consome horas de estudo, de sono, de dedicação e de abnegação dos inúmeros prazeres da vida. E quem disse que não devemos ter prazer? Que não devemos ter diversão, lazer, horas de folga pra tomar uma cerveja gelada ou fazer um simples passeio com a esposa?
E muitas vezes o próprio prazer da profissão se transforma em tragédia. Pessoas morrem e muitas vezes, a morte é inevitável. Tudo é feito, mas ela chega e acaba com tudo . E não estamos preparados para conviver com a morte. Principalmente em relação as crianças.
Quando os pais morrem viramos órfãos. E quando os filho morrem? Alguém sabe responder o que os pais viraram?

Nada é mais frustrante e desgastante para qualquer médico que a morte de um paciente, podem acreditar. Mesmo cometendo um erro, na maioria das vezes o raciocínio foi perfeito, mas baseado num caso mal observado. E pro caso ser bem observado necessita tempo. Quanto tempo? O necessário para avaliar cada caso. O tempo que geralmente não temos, pelo número de pessoas a serem atendidas. O tempo que nos falta para estudar e manter atualizados, porque chegamos em casa extremamente cansados e sonhando acordados com a cama a nossa frente. O tempo de sono que nos é tirado nas madrugadas e nos faz trabalhar cansados no dia seguinte. Daí o raciocínio já não é o mesmo e o rendimento e as respostas também não serão. E vejo nossa cidade, através dos seus administradores querendo ser referência pra toda uma região sem um pingo de recursos. São inúmeros ônibus descarregando pacientes aqui em Diamantina todos os dias. A famosa “ambulancioterapia”.
Iniciei este texto as 08:07 e até agora, 16:45, não terminei, devido justamente ao trabalho interminável, que continuará no hospital após eu sair daqui as 17 horas.
Deixo então algumas perguntas:
A quem interessa toda esta referência em nossa cidade ?
Quem realmente é o responsável pela vida dos inúmeros pacientes trazidos pra cá todos os dias?
Temos condições médicas, hospitalares e técnicas pra absorver todos esses pacientes?
Qual investimento ocorre nas cidades de origem, pra resolverem os casos, ao invés de enviarem todos os pacientes pra cá?
Por que não conseguimos atrair mais colegas médicos, pra nossa cidade?
Onde é aplicada toda a verba destinada a saúde, não só nos municípios que referenciam os doentes pra cá, mas a verba que chega aqui, já que a cidade se oferece pra ser referência?
Pacientes acordam as 4 horas da manhã, chegam aqui as 7 horas e alguns as 8 já foram atendidos, mas passam o dia todo perambulando nas portas dos hospitais atépoder ir embora no final da tarde. Muitos sem sequer uma refeição. Alguém pensa no desconforto deles?
Quem souber alguma resposta me avise por favor, porque os discursos já não convencem mais. Nem mesmo aos Rubinhos da vida.
Ass. Rodriguim.

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